quarta-feira, 20 de maio de 2009
PRESERVAÇÃO DAS MATAS CILIARES EM ALEXANIA
Hélio Nascente*
Erosão em Olhos d’Água, Alexânia: origem em uma estrada de carros-de-bois há 60 anos
O Município de Alexânia, localizado na região do Planalto, no leste de Goiás, é abrangido por terras de cerrado, o que significa existir uma fragilidade para a preservação de suas condições originais, criando facilidade de escorrimento da camada superior do solo por ação da intensa pluviosidade sazonal, que vai de setembro a abril, durando, portanto, cerca de oito meses por ano.
Em conseqüência, há uma forte tendência do aparecimento de erosões de grande vulto, principalmente em decorrência da ação e da omissão humanas, com o desmatamento e outras atividades econômico-sociais que expõem o solo nu à ação das enxurradas, que descola a camada superior de terras, levando-a para os cursos d’água, provocando enormes depressões, denominadas de erosões e conseqüentemente o assoreamento dos córregos, o que resulta no fatal desequilíbrio do ecossistema, em prejuízo das gerações vindouras.
A principal ação humana que causa esses danos ao ambiente é a destruição das matas ciliares com fins econômicos imediatistas, o que é prejudicial a longo prazo. Por isso, em muitos casos tardiamente, o Poder Público, por meio do Legislador, criou mecanismos legais destinados à prevenção dessas ações nocivas, com a cominação de penas para seus atores diretos.
Foi o caso da erosão surgida nas proximidades do povoado de Olhos D’Água (fotos anexas), chamado pela população de buracão e que já custou a vida de algumas pessoas ao longo da sua existência, além de incontáveis acidentes não fatais, mas causadores de algum tipo de prejuízo às vítimas.
Disse o morador de Olhos D’Água, Elcy Queiroz, de 72 anos – que viu o surgimento da erosão desde o primeiro momento, uma vez que o local situa-se na antiga fazenda de seu progenitor, onde foi criado – textualmente: “A erosão começou com a enxurrada sendo canalizada dentro do sulco de uma estrada de carros-de-bois e aos poucos foi aumentando até virar o que é hoje”. De fato, percorrendo-se o terreno acima do início da erosão, vê-se claramente a existência de vestígios da antiga estrada carreira coberta pelo capim e onde há novos inícios de deterioração do terreno. Segundo a informação da testemunha, o início, os primeiros sulcos da erosão ocorreu há 60 anos, quando ele, menino de 12 anos, exercia a atividade de candeeiro de bois para seu pai e transitava regulamente pela dita estrada, até que essa ficou intransitável em conseqüência das chuvas.
A Lei Orgânica do Município de Alexânia, que entrou em vigor em 2005, diz no capítulo referente ao meio ambiente:
Art. 203. Todos têm direito ao ambiente saudável e ecologicamente equilibrado, bem do uso comum do povo e essencial à adequada qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público Municipal e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para o benefício da atual e das futuras gerações.
§ 1.º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas.
Art. 210.São áreas de proteção permanente:
I – as de nascentes dos rios e os mananciais;
IV – Os fundos de vales e encostas.
Lei Orgânica do Município de Alexânia-GO).
O parágrafo primeiro e seu complemento do texto legal municipal coincide ipsis litteris com o que reza a Constituição da República Federativa do Brasil, cujo artigo 225 trata do assunto.
Só a atual administração municipal de Alexânia, tendo em vista a gravidade da situação causada pela erosão, tomou providências concretas com a finalidade de conter o avanço dos estragos causados na região, conseguindo a aprovação de um projeto que visa à solução do problema, com a participação da Administração Federal, o qual será implementado em 2009. Consta simplesmente da revitalização do local, por intermédio do plantio de vegetais adequados que irão evitar a continuação do desmoronamento da terra, inibindo, assim, o avanço da erosão.
Outra atitude da atual administração municipal de Alexânia foi a implementação de fiscalização visando cumprir o dispositivo legal, que diz:
Art. 206. As condutas e atividades lesivas ao ambiente, bem como a sua reincidência, sujeitarão os infratores a sanções administrativas e a multas, na forma da lei, independentemente da obrigação de restaurá-lo às suas expensas.
Lei Orgânica do Município de Alexânia-GO).
Diante desses textos legais federal e do Município de Alexânia, nota-se a existência de uma legislação ambiental que pode ser considerada como uma das mais avançadas do mundo, porém, a criação e instituição de normas que disciplinam o uso indiscriminado dos recursos naturais disponíveis, parecem não ter aplicação adequada, devido à falta de comprometimento e necessidade de manutenção dos recursos propriamente ditos.
Mas, apesar das pressões políticas de grupos econômicos hegemônicos, a administração municipal de Alexânia, mesmo timidamente, está dando mostras de que a preocupação com a preservação do meio ambiente não é letra morta. A revitalização da erosão de Olhos D’Água, providência postergada durante seis décadas pelo Poder Público, só agora encontra uma solução, com a iniciativa municipal em parceria com o Governo Federal, sendo que a este caberá a liberação de recursos orçamentários que viabilizem a implementação da importante obra.
Com essa atitude positiva, a administração visa dar cumprimento à lei que a norteia: “... restaurar os processos ecológicos essenciais...”. E, mais adiante, com a fiscalização sobre as ações de possíveis agentes (ou atores) da degradação ambiental, cumpre outra parte da legislação: “...preservar (...) os processos ecológicos essenciais...”
Assim, Alexânia dá ao País um exemplo de como agir em defesa da proteção ao meio ambiente, preservando as matas ciliares e as nascentes dos rios, e transformando a letra da lei em coisa viva, praticando o que está escrito e não, como acontece em todas as regiões, permanecendo a lei como letra morta. Só assim se poderá cumprir o que diz a Magna Carta brasileira:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Vade Mecum RT 2008. Constituição da República Federativa do Brasil. 2ª ed. São Paulo: RT, 2008, p. 29 a 95).
*Hélio Nascente, autor: Projeto de Pesquisa apresentado no final do segundo período do curso de Direito. Faculdade Raízes – Anápolis-GO. Junho/2008 – Orientadora: Prof.ª Sandra Lopes.
ANTÔNIO PARREIRA – IDEALISMO ACIMA DE TUDO
Hélio Nascente*
Antônio Parreira soprando velinhas no seu “niver”
Antônio Parreira, falecido em setembro de 2007, viveu durante décadas em Alexânia-GO, sempre dedicando seu talento, sua cultura, sua inteligência brilhante em prol da imprensa local. Deixou grande número de amigos na cidade. Em novembro de 2001, o Jornal da AGI, de Goiânia, por iniciativa do então presidente da entidade, Walter Menezes, homenageou Parreira com a pequena biografia abaixo transcrita. Hélio Nascente, então redator do Jornal da AGI, colheu os dados com o ilustre homenageado e redigiu o texto. Hoje vive em Alexânia, tendo chegado à cidade três meses antes do passamento do amigo Parreira.
Nasceu em Guaxupé, Minas Gerais, no dia 25 de janeiro de 1926, onde estudou na Escola de Comércio, concluindo o curso de Perito Contador, com a duração de seis anos, posteriormente equiparado a curso superior. Com pouco mais de 30 anos de idade, em 1954, buscou horizontes maiores, transferindo-se para a Capital mineira, onde já tinha contatos políticos com líderes como Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves e com o veterano Arthur Bernardes, ex-presidente da República.
Em Belo Horizonte, ao mesmo tempo em que militava nas lides políticas, trabalhava e continuava os estudos, tendo feito o curso de Economia, profissão que adotou efetivamente, vindo depois a dedicar-se ao Jornalismo, misturando profissão com idealismo, com o gosto de escrever.
Trabalhou no jornal O Debate, depois chegou a ser membro do Conselho do Diário de Minas, órgão pertencente ao grupo político liderado por Negrão de Lima, que posteriormente veio a ser governador do Estado da Guanabara. A partir daí passou a se dedicar à profissão de jornalista.
Criou em Belo Horizonte o semanário Gazeta de Minas Gerais, que chegou a ter a surpreendente circulação de 50 mil exemplares.
Em 1962 transferiu-se para Goiás, estabelecendo-se na pequena e promissora Alexânia, tornando-se sócio do fundador da cidade, Alex, no empreendimento imobiliário que deu origem à cidade.
Em 1964 promoveu um comício de desagravo a favor do governador Mauro Borges Teixeira, fato que o fez ir para Buenos Aires, onde viveu durante três anos, num exílio voluntário, por não concordar com os rumos políticos tomados na época pelo governo militar. Foi para a Argentina espontaneamente.
Retornou para Belo Horizonte para continuar com o jornal Gazeta de Minas Gerais e ao mesmo tempo ingressou nas atividades políticas ao lado de Tancredo Neves. Depois instalou-se definitivamente em Alexânia, onde vive até hoje.
Resultados
Parreira fala francamente que o jornal Gazeta Regional é para ele mais o cumprimento de um idealismo, já que não dá resultados financeiros nem econômicos substanciais, rendendo apenas o suficiente para seu sustento.
Para ele, o grande resultado do jornal é o crescimento da educação da comunidade por meio da comunicação e constata que o Município cresceu muito nesse setor e que a grande maioria da população lê o jornal, diferentemente dos tempos de outrora, quando quase ninguém lia e chegaram a existir três jornais, mas com a duração de apenas alguns meses. Segundo Antônio Parreira, o jornal Gazeta Regional hoje faz parte da cidade, influindo diretamente até mesmo na maneira de ser da juventude. Uma pesquisa realizada em Alexânia verificou que 87% da população lê o jornal e o aprova.
Conselho para os jovens
Instado a dar um conselho para os jovens, para as novas gerações, o valoroso jornalista Antônio Parreira, do alto dos seus 70 anos, afirmou:
“Eu diria para o jovem de hoje colocar a cabeça no lugar, ser mais religioso, ter mais princípios, abandonar a droga, a bebida alcoólica, o fumo e viver em paz, dentro dos princípios religiosos, dos princípios humanos, cultivando o amor fraternal, o amor ao próximo de um modo geral, fazendo as orações quotidianas, porque só a oração faz com que tenhamos paz”.
E deu um exemplo: “No nosso tempo de jovens, no curso primário, antes de entrar para a sala de aula cantávamos o Hino Nacional e antes de se iniciar a aula fazíamos orações. Na minha opinião, desde que foi eliminada a obrigatoriedade da religião nas escolas, o ensino foi se deteriorando e não há mais seriedade, os alunos não sentem mis obrigação. No dia sete de setembro, ao mesmo tempo em que é executado o Hino Nacional, muitos jovens estão dançando, não acompanham, não sabem cantar, porque não aprenderam, porque a escola não ensina, a escola não é mais aquela”.
Finalizando, Parreira fez uma crítica ao ensino moderno, afirmando que “os professores de hoje pensam só no salário, esquecem o sacerdócio que deveria ser o ensino, porque é ensinando com amor que o aluno aprende e o pensamento hoje é só ganhar dinheiro, fazer greves e o verdadeiro ensinamento não importa”.
*Publicado no Jornal da AGI – Associação Goiana de Imprensa, Goiânia, edição de novembro de 2001.
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