quarta-feira, 19 de maio de 2010
PASSOS RÉGIOS
Waldire Laureano
Sou antropóide na árvore da vida
Sou homo erectus no limite genético
Da evolução.
Sou homo sapiens e carrego atávica solidão.
Campeio a noite e vago no tempo,
Raios e trovões bradam
e se perdem na amplidão
Da minha angústia.
A cada dia foge o tempo de criança,
Mais um dia passa em minha'alma,
O sertenejo ponteia sua viola
Que à cabocla consola.
A harpa dos meus sonhos perdidos
É murmúrio dos meus segredos,
É orvalho do meu choro
Junto à cruz do calvário.
Sorri, poeta!...
Vejo lágrima de dor
Nos teus olhares,
Se a justiça do céu te abandona,
Se a justiça do céu te esquece,
Vai por este orbe chorando
A mágoa do abandono e esquecido.
Sou criança triste
Perdida nos voaçantes
Ventos da noite.
Ruge vento, ruge,
Ruge na selva
De cimento armado,
Ruge nos rochedos,
Ruge nos montes e nas vagas.
Leva meu canto de voz sofrida
E desperta as almas grandes,
Para ouvirem os gorjeios
Dos pássaros nos caminhos
Tortuosos da vida.
Ai! Como é doída essa amargura,
Cala-te bardo do cimento armado,
Tu és maior do que o sofrimento,
És maior que os vermes que a ti rodeiam
E que te devoram no infortúnio.
Vai, poeta... rompe a paixão,
Zomba dos menestréis
Do amor e da vida.
Vai sem falar, em silêncio,
O caminho está aberto
E pela eterna primavera,
Vai com passos régios
E vira rei no aconchego da noite.
Talvez por magia... à luz da lua
O homem tem sede insaciável
e sente o reviver de outras vidas.
Do outro lado, vai devagar,
Flutua devagar, se alguém diz:
Era um anjo bom...
Cala-te mulher, sou eu...
“Não digas nada”, nada.
Ilustração: "Poesia" http://viverepensar.files.wordpress.com/2008/12/poesia.jpg
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