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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A ALEGRE DÉCADA DE 30


Jorge Rodrigues de Senna*

Por volta de 1937 ou 38, estabeleceu-se, no Rio de Janeiro, uma empresa mexicana chamada Conservas Del Rio, de vida efêmera, dedicada à fabricação de doces e, também, de conservas em geral. Uma das suas primeiras providências, para lançar-se entre nós, foi encomendar uma música a Ari Barroso, cuja fama de grande compositor já era notória.
O ubaense deu um capricho na ideia e saíram estes versos gostosos: “Sexta-feira à meia-noite / vou botar na encruzilhada / um feitiço pra você lerelê. Já comprei um galo preto/uma dúzia de amuleto e azeite de dendê, pra você lerelê”.

Quem comprasse qualquer dos produtos da Del Rio era convidado a escrever e informar que palavra ou expressão deveria ser usada em lugar do lerelê.

Cada acertador foi premiado com um dos produtos em lançamento no mercado nacional. Um deles foi Otávio, meu companheiro da “República” em que habitávamos, na Rua General Osório, n° 227, em Natal-RN. O rádio não parava de apregoar, a cada instante, a doçura, a maravilha de sabor com que se deliciavam aqueles que experimentavam os produtos tão intensamente anunciados. A favor da empresa, já havia a ideia impregnada em nossas cacholas, naquele tempo, de que “tudo que é estrangeiro é bom”. Havia a “convicção” de que qualquer produto brasileiro, se começasse a ter aceitação, logo seria falsificado pelos fabricantes ou distribuidores. Foi aí que a Del Rio se deu mal. O doce ganho pelo companheiro Otávio

– Que mo deu a experimentá-lo – era de ruindade insuperável.

Uma lata redonda com água açucarada e 12 pedaços de maçã. E acho até que era maçã verde: dura e sem qualquer sabor. Para ganhá-la Otávio queimara as pestanas e respondera, acertadamente, que em lugar de lerelê devia ser usada a expressão “me querer”. Milhares acertaram, o que repercutiu bem entre os 40 milhões que nós éramos em 1940. Talvez 3 milhões tivessem acesso à pífia mídia de então. Quem se saiu muito bem desse acontecimento foi Ari. Talvez tenha sido essa a maior campanha de divulgação de uma entidade na época. Eleição era palavra proibida. A divulgação intensa e muito bem dirigida da sua música, certamente influiu para que logo depois fosse ele contratado pela Metro Goldwin Meyer, para acompanhar Carmem Miranda, que recentemente deixara o Cassino da Urca e partira para os Steites a fim de resplandecer nas telas do mundo com suas magistrais apresentações de Chica Chica Boom, Uma Noite no Rio e outros filmes, cujos nomes me fogem agora. Foi nessa época que dona Darci Vargas iniciou campanha para an- gariar fundo financeiro destinado à edificação de seu sonho maior, a “Cidade das Meninas”, onde seriam acolhidas mães solteiras adolescentes, para o que chegou a obter um grande terreno nas imediações do Estádio “Caio Martins”, em Niterói-RJ, certamente doação do genro, Almirante Amaral Peixoto, então Interventor Federal naquele Estado.

Foi quando ela promoveu uma série de espetáculos no Teatro Municipal do Rio, a que denominou “Joujoux de Balangandans” e encomendou a Ari Barroso música para engrandecer aquelas noites que marcaram o início da “Era do Rádio” no Brasil. Lá foi lançado, tocado pela primeira vez, a genial Aquarela do Brasil. Estavam no auge de suas carreiras Francisco Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas, Carlos Galhardo, Nelson Gonçalves, Gilberto Alves e todos os outros monstros sagrados da época, como Dorival Caimmy, com seu No Tabuleiro da Baiana, Os Quindins de Yaiá e toda a sua já então vasta produção musical. Também estavam as irmãs Linda e Dircinha Batista, que, segundo as más línguas, seriam as culpadas pelo abandono, por Dona Darcy, do projeto da “Cidade das Meninas”.

Isto é outra estória. Triste. Não conto, mesmo sendo o eleitor da UDN, que vim a tornar-me.

*Jorge Rodrigues de Senna é escritor e acadêmico
Fonte Jornal Diário da Manhã - 04 de Janeiro de 2011


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