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quinta-feira, 28 de abril de 2011

SOU UM FORA DA LEI

Fui multado por pagar escola para os meus funcionários


Silvino Geremia *


Acabo de descobrir mais um desses absurdos que só servem para atrasar a vida das pessoas que tocam este país: investir em educação é contra a lei. Vocês não acreditam? Minha empresa, a Geremia, tem 25 anos e fabrica equipamentos para extração de petróleo, um ramo que exige tecnologia de ponta e muita pesquisa. Disputamos cada pedacinho do mercado com países fortes, como os Estados Unidos e o Canadá. Só dá para ser competitivo se eu tiver pessoas qualificadas trabalhando comigo. Com essa preocupação criei, em 1988, um programa que custeia a educação em todos os níveis para qualquer funcionário, seja ele um varredor ou um técnico.


Este ano um fiscal do INSS visitou a empresa e entendeu que educação é salário indireto. Exigiu o recolhimento da contribuição social sobre os valores que pagamos aos estabelecimentos de ensino freqüentados por nossos funcionários, acrescidos de juros de mora e multa pelo não recolhimento ao INSS. Tenho que pagar 26 000 reais à Previdência por promover a educação dos meus funcionários? Eu acho que não. Por isso recorri à Justiça. Não é pelo valor, é porque acho essa tributação um atentado. Estou revoltado. Vou continuar não recolhendo um centavo ao INSS, mesmo que eu seja multado 1 000 vezes.


O Estado brasileiro está falido. Mais da metade das crianças que iniciam a 1a série não conclui o ciclo básico. A Constituição diz que educação é direito do cidadão e dever do Estado. E quem é o Estado? Somos todos nós. Se a União não tem recursos e eu tenho, eu acho que devo pagar a escola dos meus funcionários. Tudo bem, não estou cobrando nada do Estado. Mas também não aceito que o Estado me penalize por fazer o que ele não faz. Se a moda pega, empresas que proporcionam cada vez mais benefícios vão recuar.


Não temos mais tempo a perder. As leis retrógradas, ultrapassadas e em total descompasso com a realidade devem ser revogadas. A legislação e a mentalidade dos nossos homens públicos devem adequar-se aos novos tempos. Por favor, deixem quem está fazendo alguma coisa trabalhar em paz. Vão cobrar de quem desvia dinheiro, de quem sonega impostos, de quem rouba a Previdência, de quem contrata mão-de-obra fria, sem registro algum.


Sou filho de família pobre, de pequenos agricultores, e não tive muito estudo. Completei o 1o grau aos 22 anos e, com dinheiro ganho no meu primeiro emprego, numa indústria de Bento Gonçalves, na serra gaúcha, paguei uma escola técnica de eletromecânica. Cheguei a fazer vestibular e entrar na faculdade, mas nunca terminei o curso de Engenharia Mecânica por falta de tempo. Eu precisava fazer minha empresa crescer. Até hoje me emociono quando vejo alguém se formar. Quis fazer com meus empregados o que gostaria que tivessem feito comigo. A cada ano cresce o valor que invisto em educação porque muitos funcionários já estão chegando à Universidade.


O fiscal do INSS acredita que estou sujeito a ações judiciais. Segundo ele, algum empregado que não receba os valores para educação poderá reclamar uma equiparação salarial com o colega que recebe. Nunca, desde que existe o programa, um funcionário meu entrou na Justiça. Todos sabem que estudar é uma opção daqueles que têm vontade de crescer. E quem tem esse sonho pode realizá-lo porque a empresa oferece essa oportunidade. O empregado pode estudar o que quiser, mesmo que seja Filosofia, que não teria qualquer aproveitamento prático na Geremia. No mínimo, ele trabalhará mais feliz.


Meu sonho de consumo sempre foi uma Mercedes-Benz. Adiei sua realização várias vezes porque, como cidadão consciente do meu dever social, quis usar meu dinheiro para fazer alguma coisa pelos meus 280 empregados. Com os valores que gastei no ano passado na educação deles, eu poderia ter comprado duas Mercedes. Teria mandado dinheiro para fora do país e não estaria me incomodando com leis absurdas. Mas não consigo fazer isso. Sou um teimoso.


No momento em que o modelo de Estado que faz tudo está sendo questionado, cabe uma outra pergunta. Quem vai fazer no seu lugar? Até agora, tem sido a iniciativa privada. Não conheço, felizmente, muitas empresas que tenham recebido o tratamento que a Geremia recebeu da Previdência por fazer o que é dever do Estado. As que foram punidas preferiram se calar e, simplesmente, abandonar seus programas educacionais. Com esse alerta temo desestimular os que ainda não pagam os estudos de seus funcionários. Não é o meu objetivo. Eu, pelo menos, continuarei ousando ser empresário, a despeito de eventuais crises, e não vou parar de investir no meu patrimônio mais precioso: as pessoas.


Eu sou mesmo teimoso.


*Silvino Geremia é empresário em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.


Revista Exame / Edições / 0619


Fonte: https://mail.google.com/mail/h/1srkken865y68/?v=c&th=12f96eca0d8ef3a3

sexta-feira, 15 de abril de 2011

GERALDO VALE, O PRÍNCIPE DA IMPRENSA

Walter Menezes*

O jornalista Geraldo de Araújo Vale, natural de Orizona, filho de Idomeneu Marques de Araújo e Mariana Rosa de Araújo, nasceu no dia 23 de março de 1914. Faleceu no dia 30 de abril de 1979.
Dotado de invejável tino de observação, consagrado na imprensa goiana, era ainda filósofo como poucos, escritor, crítico e poeta.

Como repórter, marcou época com alguns dos seus trabalhos. Todos, focalizando Goiás, estado eu conheceu do “Paranaíba às confluências dos rios Tocantins-Araguaia”, como costumava afirmar. De fato, foi agenciador estatístico do IBGE – atividade que lhe deu oportunidade de conhecer todos os municípios do Estado. Escrevia com conhecimento de causa sobre qualquer assunto ligado ao interior goiano, notadamente sua história e potencialidade econômica.

Amizade, ele cultivou em todas as localidades. Daí porque obteve expressiva votação quando se candidatou, uma ou duas vezes, a cargos na esfera federal. Mais como protesto e afirmação pessoal. Vale lembrar que em décadas passadas os jornalistas eram mais temerosos em participarem da política como candidatos.

Na Associação Goiana de Imprensa foi presidente por três mandatos, todos em alternância. Jamais patrocinou a sua própria candidatura e sempre elegeu-se em oposição.
Em sua gestão aconteceu, em Goiás a Conferência Nacional de Jornalistas que prestou inestimável ajuda a Goiânia na afirmação junto ao País e ao mundo.
Também, sob a égide da AGI, em sua gestão, foi criado o primeiro curso de jornalismo em Goiás, com reconhecimento oficial inclusive. Vários dos jornalistas que militam na comunicação atual tiveram o início de carreira naquele curso ministrado pela entidade, idealizado pelo seu presidente.

Inaugurou, no recinto da AGI, um restaurante que funcionou por vários anos, oferecendo refeições fartas e com preços acessíveis aos associados.

Fundou um curso de música para os associados e dependentes e sua administração fazia com que a AGI estivesse presente em tudo que dizia respeito aos interesses de Goiás e sua gente, mormente aos jornalistas. Por várias vezes esteve na Capital da República (no Rio e Brasília), defendendo os interesses da classe. O presidente Juscelino Kubitschek tinha pelo mesmo acentuada admiração e de certa feita afirmou de viva voz: “Geraldo, as portas do Palácio da Alvorada (residência do presidente) estarão sempre abertas para você”.

Por gestões suas no IAPI (INSS de então) conseguiu financiamento para a construção de residências (boas) para 40 sócios da AGI. Democraticamente, abriu inscrições para os interessados. Entregou a execução da escolha dos pretendentes a uma comissão, a qual, por ironia, não incluiu o nome de Geraldo na relação dos beneficiados. Embora todo o trabalho para se conseguir o financiamento tenha sido feito na gestão de Geraldo Vale, a liberação dos recursos deu-se em mandato que não o seu.

Pouco dado a esmero no trajar, era quase sempre visto em um terno roto e gravata quebradiça. Mesmo assim, era bem recebido e admirado em todos os eventos de que participava, notadamente nas áreas culturais. Benquisto sempre o foi em todos os lares goianienses, mesmo porque era um “gentleman”, que dosava sempre suas palavras, razão pela qual nas residências mais nobres de Goiânia era recebido sempre de braços abertos. Em suas visitas de amizade, além de participar com desenvoltura sobre os mais variados assuntos, não se descuidava quando era convidado a dedilhar um violão ou fazer vibrar o som das cordas de um piano à vista.
Passou por vários jornais de Goiânia, como O Popular, Cinco de Março, Folha de Goyaz e outros. A muitos dos jornais e revistas de circulação efêmera, Geraldo emprestou a sua efetiva colaboração, orientando os “donos”, na maioria jovens e idealistas. Fundou, juntamente com Clotário de Freitas (na Rua 20, quem se lembra?) o jornal Nova Capital quando falar sobre a transferência da Capital Federal para o Planalto Central era coisa risível.
Homem bastante para a grande tarefa.

Por ocasião da construção de Brasília, foi um dos pioneiros, prestando inestimável serviço à Companhia de Urbanização da Nova Capital da República. A convite do seu amigo Altamiro de Moura Pacheco, aceitou fazer parte da Comissão de Desapropriação das Terras do sítio da Nova Capital. Altamiro, homem probo ao qual Goiás muito deve, viu no jornalista “o homem bastante grande para a tarefa” e sempre dizia que o mesmo era “um dos expoentes do jornalismo e da cultura em Goiás”.

Na literatura também se fez presente. Escreveu e editou vários livros. Só na Editora Oriente foram três títulos impressos.

Resistência civil
Convém recordar que na gestão de Geraldo Vale, quando a Posse de João Goulart, então vice-presidente da República, venha sendo impedida por correntes políticas e militares, na renúncia do presidente Jânio Quadros, a sede da AGI foi transformada em batalhão de resistência, tendo inclusive, dezenas de seus associados se postado em prontidão para atacar Brasília, caso João Goulart não assumisse a Presidência. A posse foi concedida, todos sabem, um tanto frustrante para o “batalhão da AGI” em decorrência da instalação apressada do parlamentarismo. Geraldo Vale, nesse episódio, não só cedeu as instalações da AGI como procurou arregimentar vários associados para a causa. Isso, com o total apoio da Assembleia Extraordinária da entidade, que contou com mais de 300 partícipes em um só ato, feito jamais igualado em toda a história da entidade.

Difícil, mesmo, falar sobre Geraldo Vale e suas realizações ao longo de sua vida. O fato é que deu tudo de si para todos e teve muitas decepções em troca.
A história fará justiça nos méritos deste que é cognominado “o príncipe da imprensa Goiânia”.

Obras de Geraldo Vale
1. Palavras do Caminho – 1965 – Premiado pela Academia Goiana de Letras
2. O Discurso de Satanás – Ficção política etiológica
3. No Cemitério das Oposições – Tragicomédia política
4. Em busca de Deus e da Paz – Filosofia
5. A Vida supera a Arte – Contos reais
6. Palavras do Caminho – Reedição – poesia
7. Ginástica e Estética da Língua Portuguesa
8. Versões e Pensamentos
9. Tenda do Caminho – Mensagens espiritualistas
10. O Poder da Prece – Concepção científica do pensamento humano e cósmico
11. A Catedral Submersa e uma noite em Pompadal – Poemas
12. Numerologia Filosófica
13. Na Seara dos Gênios
14. Filosofia da Música – Tese sobre didática musical, obra inacabada.
Muitas dessas obras estão esgotadas e algumas desaparecidas ou não chegaram a ser editadas.


*Walter Menezes, jornalista, ex-presidente da Associação Goiana de Imprensa e atual diretor do Jornal da Cultura Goiana.
12 de Abril de 2011

Fonte: Jornal Diário da Manhã
http://www.dm.com.br/#!/275457

sábado, 9 de abril de 2011

A MULHER DE LÓ E A LEI DA ANISTIA

Licínio Barbosa*

A atoarda que se vem fazendo, desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, e das leis ordinárias que regulamentaram a Lei da Anistia, está a suscitar algumas considerações pertinentes à matéria.

Todos se lembram do clamor popular, sob a égide das lideranças pensantes do País, a fim de que se pusesse um ponto final na Era de arbítrio que caracterizou, no plano político, o movimento militar de 31 de Março de 1964, a que se convencionou chamar de “Revolução de Março de 1964”. O presidente Ernesto Geisel já havia revogado o AI-5, símbolo daquela Era. Imprescindível completar-se-lhe a obra com um instrumento normativo para, eventualmente, corrigirem-se-lhe injustiças de natureza reparadora, visando-se a um congraçamento nacional.

Assim é que foi sancionada a Lei nº 6.683, 28.08.1979, denominada Lei da Anistia.Em seu art. 1º. , o legislador ordinário assim disciplinou a matéria:“É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexos com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de Fundações vinculadas ao Poder Público, aos servidores dos poderes Legislativo e Judiciário, aos militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares”. No seu § 1º, a Lei estabelece: “Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política”.

Uma vez em vigor a Lei da Anistia, voltaram ao País todos ou quase todos os seus destinatários exilados, e, paulatinamente, se foram reintegrando à vida nacional. Uns receberam indenizações financeiras, outros voltaram a ocupar cargos dos quais foram, ilegalmente, afastados por atos discricionários.

Vejo, agora, com acentuada preocupação, que se pretende revogar a Lei da Anistia, a fim de invalidar os seus efeitos no que tange aos agentes do governo militar, mantendo, contudo, intocáveis, os efeitos benéficos para as vítimas do governo discricionário.

Quando se promulgou a Lei da Anistia, prática político-administrativa que vem do Império, com os vários movimentos secessionistas do Nordeste ao Sul do País, imaginava-se que estava aberto o caminho para a paz, e a reconciliação nacional.

Ledo engano. Agora no poder, os anistiados, que aceitaram de bom grado os benefícios da Anistia, inclusive os de natureza financeira, voltam ao tema pretendendo anular os benefícios creditados aos agentes do governo revolucionário, como se a Lei da Anistia, obliquamente, somente gerasse efeitos benéficos numa determinada direção, e não com a amplitude inerente ao instituto. Essa postura vesga de alguns setores da sociedade, marcadamente radical, me faz lembrar um episódio bíblico que ficou para a posteridade. Refiro-me ao registro do que aconteceu em Sodoma.Diz a Gênesis, capítulo 19, que, pretendendo destruir a cidade, o Senhor mandou-lhe dois anjos para que procurassem, na cidade, algumas pessoas que ainda não estivessem contaminadas pela podridão moral. Os anjos encontraram ali, dignos de serem salvos da destruição, Ló, sua esposa e as duas filhas do casal. Os anjos, então, tomaram a Ló pela mão e a sua família, com o seguinte apelo: Saiam, imediatamente da cidade, mas não olhem para trás.

E assim se fez. Chegado o momento, Ló tomou a família, e saiu da cidade, sem olhar para trás, como haviam recomendado os anjos do Senhor. Todavia, a mulher de Ló não resistiu à curiosidade, e olhou para trás, transformando-se numa estátua de sal.

É o que está na iminência de acontecer com as mulheres de Ló de nossos dias. Elas podem reeditar o episódio de Sodoma, e, os olhos fixos no passado, podem se transformar em estátuas de sal, petrificadas na obsessão de um passado a esquecer.

Enquanto a vida continua a fluir para cumprir seu destino histórico.

*Licínio Barbosa, advogado criminalista, professor emérito da UFG, professor titular da PUC-Goiás, membro titular do IAB-Instituto dos Advogados Brasileiros-Rio/RJ, e do IHGG-Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, membro efetivo da Academia Goiana de Letras. E-mail liciniobarbosa@uol.com.br)

Fonte: Jornal Diário da Manhã
http://www.dm.com.br/#!/274552

sexta-feira, 8 de abril de 2011

DEFESA NACIONAL

Eurides Curvo*

Outra anormalidade constitucional será apresentada; desta vez, será uma opinião a respeito da defesa nacional. O Ministério da Defesa é uma inovação acertada, um órgão envolvido com assuntos militares e outros de interesses nacionais, onde o cargo de ministro da Defesa é civil. Este é o caso dos países desenvolvidos no comportamento moral e ético, exemplo típico o Japão, onde os dirigentes corruptos dos órgãos se suicidam ou são rapidamente afastados e severamente punidos, bem diferente do que acontece no Brasil. Isso foi um artifício utilizado para afastar as Forças Armadas das decisões nacionais, sabedores que elas não permitiriam muitas das mutretas existentes, evitadas antigamente com o exagero de três ministérios militares. A boa intenção é visível do atual ministro, a preocupação é com os futuros. Os ministros da Defesa e da Secretaria de Estudos Estratégicos produziram um documento em que se apresenta uma Estratégia Nacional de Defesa (END) para as Forças Armadas até o ano de 2030, um plano louvável. A END foi apresentada aos comandantes das forças singulares (FA). Na END, o ministro da Defesa, um cargo político, adquire poderes além dos estipulados na Constituição para atuar nas atribuições dos comandantes das forças singulares e dos EM, sem possuir o devido conhecimento para opinar na sua formação; um tema desenvolvido nas Escolas de Estado-Maior e nos estudos do Alto Comando. A administração das Forças, nas suas organizações, formações, equipamentos, movimentações e promoções, internas dos seus integrantes não podem sofrer a interferência de pessoas externas aos seus quadros. As FA devem continuar imparciais no cumprimento do dever. Não podem ser atreladas ou transformadas em suporte a partido político. A peça fundamental das forças militares em todo o planeta é o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMFA) cujo chefe é o real comandante-em-chefe das FA nas operações. Nesta organização, é feito o planejamento e o emprego conjunto, os outros elementos são eles administrativos do Ministério da Defesa. Nos países desenvolvidos, o chefe do EMFA é o consultor militar do ministro da Defesa e do presidente. Um EMFA geralmente é composto por todos os EM das forças singulares e seus respectivos comandantes, onde estes se revezam anualmente na chefia da EMFA. Um órgão lógico, com todo o conjunto estabelecido em um mesmo prédio, facilitando as consultas pessoais entre os envolvidos, um trabalho irmanado, uma instituição cooperando espontaneamente com a outra. Uma maneira de integrar as três forças. Um exemplo, o pentágono dos EUA, onde a Defesa congrega do EMFA, a três forças, e a parte a administrativa. Só os antagônicos não copiam o que é bom dos outros. A fim de evitar a extrapolação do poder presidencial na END, em dar poderes para o ministro da Defesa além dos já previstos na Constituição para a Defesa e em outros casos que poderão advir. Reformular a Constituição no ?Artigo 142... sob a autoridade suprem do presidente da República, para... sob a supervisão do presidente da República e, por determinação do Conselho de Defesa Nacional à defesa da Pátria, à garantia dos outros poderes constitucionais e, por iniciativas destes para a defesa da ordem e da lei?. A decisão colegiada é importante em certos casos e em outros os demais poderes não necessitariam da permissão do presidente da República para aplicá-las, bastaria comunicar-lhe a atuação. Exemplo: o acontecimento com o presidente Bush levando os EUA ao caos. No momento, estamos assistindo a uma divergência entre os poderes Executivo e Judiciário no caso do refúgio concedido ao criminoso italiano Battisti pelo ministro da Justiça. O Supremo pode conceder a extradição do citado criminoso atendendo à Justiça e ao governo italiano; o presidente da República alega que, na legislação atual, somente ele tem esse poder e já se manifestou dizendo que não irá cumprir a decisão, desafiando o STF. Mais um motivo para a mudança do Artigo 142 sem retirar a subordinação das FA ao presidente, porém, dando condições aos outros poderes de autorizarem diretamente a sua atuação, com o STF dirimindo as dúvidas. Fatos dessa natureza estão acontecendo em outros países subdesenvolvidos, o uso indevido do poder para intervenções, inclusive com a desmoralização dos tribunais superiores. O dito-cujo está preso na Polícia Federal, sob a jurisdição do ministro da Justiça, subordinado ao presidente da República. A interpretação das leis é do STF, então, de acordo com a mudança proposta na Constituição, o STF poderá determinar a atuação dita das FA, no caso do presidente, do ministro e da Polícia Federal não cumprirem a determinação, no caso da concessão da extradição. Neste País onde quase tudo é possível, o ministro da Justiça atuar com uma decisão imperial em um assunto de relevância internacional, por não admitir o direito ao recurso da extradição; o País sempre foi o paraíso dos criminosos e ladrões internacionais. Não bastam os nossos? O presidente vem se comportando como um monarca perdulário: dispensando dívidas de países estrangeiros, continua emitindo as famosas MPs. Ao arrepio da jurisprudência baixada pelo STF, suas milionárias viagens ao estrangeiro, despesas todos os dias com minicomícios, cartões de créditos secretos, comprando votos através do Bolsa Família sem definir as condições para um prazo de validade, formando uma verdadeira casta (uma injustiça, isso não vale para os governadores da Paraíba e do Maranhão, que gastaram muito menos na compra de votos), régias indenizações e pensões pela comissão da anistia e outras, com o dinheiro público. As Formas Armadas devem solicitar ao ministro da Defesa um plano de saúde comum que desonere os integrantes desse problema prejudicial ao desempenho deles; principalmente quando os militares são transferidos para a fronteira ou locais sem condições para moradia da família e educação dos filhos, obrigando a manutenção do lar a distância. Na aquisição dos equipamentos para as FA os institutos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica deveriam opinar sobre a qualidade do material e dos equipamentos.


*Eurides Curvo é tenente-coronel de Infantaria, reformado, do Exército, ex-coronel-comandante da PM e ex-secretário da Segurança de Goiás, engenheiro eletricista e professor titular aposentado da Escola de Engenharia Elétrica e de Computação da UFG


17 de Abril de 2009


Fonte: Jornal Diário da Manhã


http://www.dm.com.br/#!/142521

quarta-feira, 6 de abril de 2011

PENSAMENTO SOBRE O PECADO

"Assim como o bicho da seda secreta a seda, os seres humanos secretam o pecado".

(James Farrel, em O Cerco de Krishnapur).

VILA MATIAS

Giovani Ribeiro Alves*

Parte da minha infância foi vivida entre Taguatinga Sul, no Distrito Federal e outra parte no Conjunto Riviera, em Goiânia. Em Taguatinga Sul, moramos a maior parte do tempo na Vila Matias, em um barracão de tábua de apenas dois cômodos, em um lote com mais nove barracões, um banheiro coletivo para todas as famílias, uma cisterna com uma carretilha para tirarmos água. Dentro do barracão, um fogão Dako, de quatro bocas, um botijão de gás, uma cama de casal para os meus pais, e uma beliche onde dormíamos eu e minha irmã, Meiry Lúcia, além de uma rude mesa com quatro cadeiras e um antigo armário de madeira.

Em baixo da cama da minha mãe, tinha um penico de plástico, pois em noites de chuva e de frio, o acesso ao banheiro era muito difícil, então urinávamos no penico e pela manhã derramávamos a urina no banheiro que possuía apenas um vaso sanitário e um chuveiro frio para atender dezenas de moradores daquele lote enorme, com a casa de alvenaria na frente do lote, que pertencia aos proprietários, Seu Ivo e Dona Iracema. A rua era larga, sem asfalto, nos dias chuvosos os sapos cantarolavam, fazendo ecoar um som, como que chamando alguém: “Bruno” , “Bruno”, “Bruno”, isso facilitava a diversão de uma infância sem brinquedos mas com muitas brincadeiras, como as “fincas” que eram jogadas em tempos de chuva, pois o chão molhado facilitava a brincadeira.

A inesquecível Nair, determinada, solteirona, que cuidava da mãe, dona Geralda, uma senhora já bem idosa, uma vez fui com dona Geralda na feira da pracinha da Vila Matias, que ficava nas imediações do antigo Cine Rex, e lá aprontei uma grande arte com a ”pobre velha”, ela caiu e na sua queda os seus óculos foram lançados para um lado e os seus chinelos para o outro, quando uma senhora a levantou, eu disse a ela que uma ponta de cigarro que estava no chão, também era de dona Geralda, a mulher então quando ia colocando o cigarro de volta na boca da dona Geralda, ela bradou: “Eu não fumo, isso é caçoagem do Giovani.” Dona Geralda era uma mineira franca, branca, de baixa estatura, fortinha e que usava um óculos de massa, cor preta, ela morava em dois cômodos na fundo da casa da sua filha Nair, quando eu ia até o seu barraco me chamava a atenção um relógio de parede no formato de uma chaleira e foi em seu singelo barracão onde pela primeira vez eu vi um “Bom Ar”, que dona Geralda aspergia constantemente nos seus dois cômodos para perfumar o ambiente.

Nair era uma serviçal da rua, aplicava injeções, gostava de repartir o pão, e cuidava dos gatos e cachorros abandonados que apareciam em sua porta, funcionava em sua casa uma espécie de “vendinha” para a meninada, comprávamos fiado e no final do mês nossos pais pagavam as contas. De tantas coisas que lá se vendiam, ainda me lembro dos suspiros, das marias-moles, das pipocas de doce, dos docinhos de banana e pé de moleque, picolés, pirulitos espirais, rosquinha de leite, que era fabricação da própria Nair. Para nós, meninos fregueses da Nair, a sua casa funcionava como uma espécie de reduto dos meninos que moravam nas imediações da QSD 30, onde enchíamos a barriga de guloseimas e encontrávamos a meninada toda da rua e juntos adoravámos brincar com os cachorros da Nair, Fofinho e Lilico, ambos piquinês.

Esses dias voltei na QSD 30, na Vila Matias, em Taguatinga Sul. (Os moradores que hoje moram em Taguatinga Sul , poucos sabem que Taguatinga Sul, também era conhecida por Vila Matias, que recebeu esse nome em homenagem ao Sr. Matias, um antigo morador e pioneiro de Taguatinga Sul) o cenário de hoje não é mais o mesmo de trinta e dois anos atrás, tudo mudou completamente, ruas asfaltadas, casas com grades e calçadas, os meninos desapareceram, a rua parece que morreu no esquecimento, parte do cerrado que enchia os nossos olhos cedeu lugar para a linha do metrô, apenas as torres de alta tensão ainda continuam testemunhando a veracidade da minha narrativa infantil. Dona Geralda, mãe de Nair, faleceu em 1993. A Nair continua a mesma, alegre, sorridente, de cabelos brancos e arrastando aquele sotaque paulista, com oitenta anos de idade mas com um espírito juvenil, pronunciando como de costume um português correto. Recebeu-nos com alegria e juntos voltamos ao tempo em que a rua era cheia de meninos, cachorros, buracos, lamas, sapos e capins. Os meninos da minha época cresceram, uns casaram, outros descasaram, alguns morreram, alguns permancem solteiros e uma grande maioria deles não mora mais por ali, alguns se perderam e outros se acharam na vida.

A amável Nair ofereceu-nos um delicioso café com pão e manteiga, o chão de vermelhão da sua casa ainda é o mesmo do tempo da “vendinha”, a velha geladeira “general Eletric” ainda ostenta o glamour dos anos oitenta, lá dentro ainda pude ver as vasilhas de sobremesa com gelatinas de abacaxi, como nos velhos tempos de criança em que ganhávamos de brinde a gostosa gelatina. Disse a ela que a rua não era mais a mesma e que tudo estava diferente, ela sorriu e me disse: “Giovani, tudo nessa vida passa, só não passa uma grande amizade como a nossa, que continua a mesma depois de mais de trinta anos .

(Giovani Ribeiro Alves, filósofo, professor de Filosofia e de Sociologia na rede pública estadual em Goiânia, escritor, membro da Associação Goiana de Imprensa e articulista do Diário da Manhã. giovaniribeiro42@gmail.com)

Fonte: Jornal Diário da Manhã

http://www.dm.com.br/#!/273170

AS VESTES DOS IMPUROS


Valdemes Ribeiro de Menezes

E eis que ele não tarda, para ungir o passado e ensinar ofícios oficiais. Aos desesperançados da paz, a dádiva da fé, para honrar o justo e enriquecer o simples. Ele não tarda, para conceder só aos fortes a personalidade, para relegar só aos fracos a violência. Queremos com ele uma nova luz, como sol de amanhecer. Queremos com ele uma constante fé, para desvanecer os dias piores, para amar ao próximo em dias melhores. Queremos com ele as preces dos homens, os pastos verdes e as águas tranquilas. Queremos a paz e o grande leme, como em constante Ano-Novo, na esperança de não herdar os males do velho, de não usar os fracassos de ontem, de não acreditar nos temores de amanhã. Como quem nasce em humildade, mas ensinando ofícios oficiais, nosso amanhã não tarda, em Deus e luz na paz, para lavar as vestes dos impuros.

Valdemes Ribeiro é escritor e articulista no jornal Diário da Manhã, de Goiânia.

CEM ANOS DE VIDA MÉDIA

José Morato*

Na Cordilheira dos Andes, no Equador, próximo à fronteira do Peru, vive um povo descendente dos Incas, cuja média de vida é de cem anos. Província de Lojas, Vale de Vilcabamba. La estive por duas vezes, a primeira em 1958, em companhia de três brasileiros, naturais de Ijué-RS, somente para saber as razíes desta longevidade de seus habitantes. Num de seus povoados descemos uma escada para chegar à pequena praça da igreja e, sentado no pilar, na parte baixa da escada, estava um senhor moreno, vestido de brim caqui, a quem eu perguntei quantos anos ele tinha. Respondeu:


- 115 anos. Perguntei mais ainda:


- Mas você sai assim sozinho?


- Sim, ainda estou bem e não preciso de acompanhante aqui, muita gente que anda por aé tem mais de cem anos. Ali mesmo, do lado direito esta aquele senhor que tem 112 anos, em frente outro com 105 e ali o meu compadre Juan com 109 anos, todos meus conhecidos e amigos. - Deve ter mais gente que não sei a idade mas que tenha mais de cem anos.


- Mas o que os ajuda a viver tanto assim? Perguntei.


- Não sei, o clima aqui é muito bom, a agua é uma beleza, tanto assim que os americanos a engarrafam para vender nos Estados Unidos. Não comemos sal, você poderá encontrá-lo aí, mas é de pouco uso; pouca gordura; beber, bebemos bastante. Nossa bebida é feita de milho e se chama Chichia (Titia). Há a chichia amarila, a chichia glicêna e a chichia natural. Poucas pessoas fumam. Em casa e em lugares apropriados, andamos descalço. Não tomamos nada líquido durante as refeições. Quando temos variedades de comida raramente as misturamos. - Nosso costume é comer uma coisa e depois a outra, sem misturar na hora de mastigar. A base de nossa alimentação é o milho e seus derivados. Carne quase só branca. Consideramos que o melhor alimento é a melhor medicina, o suco de limão puro, a maioria da população bebe todos os dias o suco de dois ou três limões duas vezes ao dia, com o estomago vazio. - Vocês fazem muitos exercícios? - NÓs fazemos exercício, quando descemos ou subimos escadas: o fazemos de maneira bem forte de modo que haja vibração em nosso corpo, para descer ou subir uma escada, cada degrau equivale a dez passos de quando se anda ligeiro. Esta vibração é muito boa para as artérias. Nossos músicos que tocavam em nossas igrejas viviam mais porque usavam um instrumento de bambu, vibrando todo o corpo. Nós aprendemos isto e hoje, noventa por cento da população, todos os dias, fica de pé, endurece todos os músculos das pernas, do assento, braços, pescoço, etc., e com as mãos na altura da cintura, vibramos as mãos e os braços fortemente, para cima e para baixo, pelo menos trezentas vezes. Todo dia. Esta vibração desentope as artérias e as veias; nós desentupimos com massagem superficial. - O senhor quase não tem rugas, apesar de sua idade, e quase todos que vivem aqui têm esta boa aparência. Por que? - Nossos pais nos ensinam desde crianças que a saúde é a maior riqueza. Se determinada coisa nos agride, nos aborrece ou nos preocupa, fazemos um exame: se o problema que nos aborrece tem solução, mesmo demorando e nos dando muito trabalho, afastamos esta preocupação porque sabemos que o problema tem solução. Ora, se tem solução, mesmo dando muito trabalho, não vou me preocupar. Mas se a dedução é a de que o problema não tem solução, aprendemos que, em tais casos, não devemos nos preocupar porque não tem solução. Meu querido pai veio a falecer. Eu senti muito, chorei, mas não vou ficar sempre com a sua morte, porque não adianta, ela é irreversével. Assim, afastando as preocupações e consequentemente os seus efeitos (stress), não forçamos a musculatura facial e as rugas não aparecem tanto. *José Morato é advogado em Goiânia


segunda-feira, 4 de abril de 2011

O PRÉ-SAL ESTÁ EM RISCO

Um grande desafio se apresenta para o Brasil: a necessidade de suprir a escassez de mão de obra para as atividades de Marinha Mercante. O aquecimento da economia brasileira nos últimos anos beneficiou toda a atividade produtiva. A Marinha Mercante não constitui exceção. Tanta expansão aponta para a entrada em operação de 500 novas embarcações. É nesse ponto que se coloca o grande desafio dos próximos anos. Para que estes navios e plataformas de petróleo possam operar, é necessário contar com Oficiais da Marinha Mercante. Hoje é grave o desnível entre oferta e demanda de mão de obra. A tendência é que o quadro se agrave e, portanto, que a exploração do pré-sal se veja ameaçada. No período mais crítico, entre 2013 e 2016, está previsto um déficit de mais de 1 mil e trezentos oficiais por ano, segundo estudo desenvolvido pelo setor. A demanda é enorme. Nos próximos três anos, 250 novas embarcações offshore entrarão em operação. Para tripulá-las serão necessários mais de 2.500 Oficiais, uma categoria profissional que não se forma em menos de 4 anos." O alerta foi publicado no jornal O Globo de ontem, pelo Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (SYNDARMA), Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo (ABEAM) e Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (ABAC). Entre outras propostas para o setor, as entidades sugerem a suspensão temporária do artigo 3º, da Resolução Normativa 72, do Conselho Nacional de Imigração (CNIg), que obriga o emprego de oficiais brasileiros em embarcações e plataformas estrangeiras operando em águas brasileiras. Fonte: O GLOBO-País Jornal da Aepet (Associação dos Engenheiros eda Petrobras https://mail.google.com/mail/?hl=pt-br&shva=1#inbox/12f2253cda00cfb1