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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

MINHA PÁTRIA É A LÍNGUA PORTUGUESA - Fernando Pessoa


“Do rectângulo da Europa passámos para algo totalmente diferente. Agora, Portugal é todo o território de língua portuguesa.

Os brasileiros poderão chamar-lhe Brasil e os moçambicanos poderão chamar-lhe Moçambique.

É uma Pátria estendida a todos os homens, aquilo que Fernando Pessoa julgou ser a sua Pátria: a língua portuguesa. Agora, é essa a Pátria de todos nós.”

Fonte: http://mil-hafre.blogspot.com/2011/02/19-de-marco-debate-cplp-nos-media-e-na.html

Ilustração: http://www.google.com.br/images?hl=pt-br&source=imghp&biw=1024&bih=584&q=l%C3%ADngua+portuguesa&gbv=2&aq=f&aqi=g2&aql=&oq=

sábado, 26 de fevereiro de 2011

MOÇAMBIQUE: Memórias de guerra de um jovem rebelde


Por Emídio Beúla
Fotos de Joel Chiziane


Foi no dia 5 de Maio de 1980 que um jovem de 22 anos decidiu abandonar a família (pais), a namorada, os amigos e o cargo de chefe da secção de desenhos na manutenção portuária nos CFM para se juntar a um movimento de guerrilha ainda em gestação e que se pretendia lutar ideologicamente contra a orientação marxista-leninista que a Frelimo havia assumido nos anos imediatamente após a independência. Estamos a falar da entrada de Raul Domingos no movimento que mais tarde viria a se transformar num partido político (na oposição), a Renamo.
Hoje com 52 anos (faz 53 a 14 de Outubro), o principal negociador da paz por parte da Renamo e hoje presidente do PDD (um partido na oposição que ainda não conseguiu a sua descolagem politica) terminou a sua juventude nas matas. Foi lá onde conheceu a sua esposa e fez três, dos cinco filhos.


O enlace entre Raul Domingos e a antiga guerrilha deu-se na localidade de Doeroi, posto administrativo de Amatongas, distrito de Gôndola, quando uma coluna liderada por Afonso Dhlakama interceptou um comboio de carga, onde ele e um colega e amigo viajavam. “Foi com muita sorte, o comboio parou, sem ser atacado, no local onde a coluna estava a passar”, lembra o interlocutor em declarações ao SAVANA esta quarta-feira em Maputo. Os homens armados dirigidos por Dhlakama aproximaram-se ao comboio e começaram a dialogar com os poucos ocupantes.


“Fomos convidados a fazer parte da guerrilha e eu aceitei”, conta com muita naturalidade. “Na altura ainda não tinha começado a propaganda política governamental de que o movimento era um grupo de bandidos armados, tanto mais que o movimento existia a sensivelmente três anos”, contou, quando perguntámos se foi fácil tomar a decisão.


Os pais souberam da decisão do filho de integrar o movimento de guerrilha através de uma carta que ele escreveu e entregou-a ao amigo com quem viajava. “Ele mostrou-se relutante porque tinha mulher e filhos, tinha uma mãe viúva que dependia dele”, conta Raul Domingos, lembrando que o chefe da coluna (Dhlakama) decidiu libertar o seu amigo. “Fiz a carta e pedi-lhe para levá-la aos meus pais. Quando me encontrei com os meus pais depois de terminar a guerra, exibiram a carta”, explica, lamentando que durante a guerra não pode visitar os pais. Luís Lino Guilherme, o amigo que serviu de correio, viria a ser o primeiro representante da Renamo na cidade da Beira, logo após o término da guerra.


Razões
Até 1980, o jovem funcionário dos CFM já tinha ouvido falar de um movimento que “contra o marxismo-leninismo”. E as razões para ele apagar todos os sonhos e juntar-se a esse movimento diz que eram bastantes. Uma delas, segundo conta, é a visão que tinha sobre a “grande” restrição das liberdades. Nos CFM, ele havia beneficiado de um curso que o dava direito a ascender imediatamente a uma outra categoria. “Não ascendi àquela categoria, porque na altura havia um decreto que dizia que ninguém podia ser promovido”, explica. Outro decreto que aos seus olhos coarctava as liberdades dos cidadãos, proibia os funcionários públicos de abandonarem as suas vagas estatais para irem trabalhar em empresas privadas sob pena de serem acusados de sabotagem.


Por não ter sido promovido, Raul Domingos tinha a possibilidade de ir trabalhar para uma empresa privada que oferecia vagas para a sua formação e pagava melhor, a Açucareira de Moçambique. Mas não podia abandonar os CFM sob pena de ser acusado de sabotagem.
“Esta restrição de liberdades criou em mim um trauma e comecei desde cedo a perceber que a independência não tinha trazido a liberdade”, explica os efeitos que as proibições da época criaram em si. E mais: “Percebi que havia um motivo para lutar”.


Momentos difíceis
Passam 18 anos após a assinatura do Acordo de Paz e o tempo apagando alguns episódios de guerra na memória de Raul Domingos. Mas alguns ainda resistem ao tempo, como a primeira experiência de um ataque que teve lugar em 1980 na base de Citatonga, sul de Manica.
Diferentemente dos outros jovens que uma vez capturados eram distribuídos por unidades militares dispersas, ele foi integrado na unidade central onde estava Afonso Dhlakama, o guia do movimento.


“A coluna movimentava-se de Gorongosa para o sul da província de Manica e fomos nos fixar em Citatonga. Era uma base muito conhecida e era dirigida pelo próprio Dhlakama. Mas mais tarde viria a sofrer uma ofensiva, naquilo que constitui para mim a primeira experiência militar”.
Outra experiência que Raul Domingos guarda na memória é o ataque que sofreu em Mahele, um dos cinco postos administrativos de Magude, província de Maputo. Na altura, 1984, ele era, na hierarquia da guerrilha, chefe do Estado Maior da zona sul onde dirigia entre cinco a sete mil efectivos. O ataque ocorreu dois meses depois do Acordo de Nkomati.


“Foi a 2 de Junho, o terreno não era favorável para a guerrilha. Era muito fácil sermos atacados com viaturas de combate e tanques”, descreve. E o ataque das forças governamentais viria a ser feito com recurso a tanques e carros blindados.


“Tivemos que fugir dispersos”, lembra, deixando muita informação, mapas de localização das bases e de esconderijos de material. “Mais tarde descobrimos que eles não tinham levado o saco que tinha documentos de informação militar”.


Não havia mobilização
Até Outubro de 1992, a Renamo tinha aproximadamente 25 mil efectivos. Como era feita a mobilização? Não havia, responde. “A resistência era contra a agressão à liberdade, aos valores culturais e religiosos. As pessoas sentiam a guerra como sua, não precisavam de mobilização, não precisavam de comissários políticos”, argumenta, reiterando que “cada um juntava-se à guerrilha por motivos próprios.


Outro aspecto que facilitava os movimentos da guerrilha era o acesso a informação das forças governamentais. Segundo relata, os serviços de informação eram tão sofisticados que captavam quase todas as informações militares, incluídos os planos militares, a movimentação, a logística, a ordem de batalha de inimigo - saber que tipo de armamento existe numa unidade (base), quantos homens existem, qual é a sua rotina e a sua logística.


Abastecimento
Sobre o abastecimento em material bélico, Raul Domingos a guerrilha era fornecida pelo regime do Apartheid da África do Sul e pelo regime do Zimbabuè. Mas depois dos Acordos de Nkomati, em Março de 1984, esses apoios cessaram.


“Passamos a receber material bélico fornecido por oficiais e altas patentes das forças governamentais”, acusa, sem fornecer muitos detalhes sobre isso. “Agora não posso indicar os nomes dessas pessoas, mas do lado do movimento quem colaborava com elas era Manuel Pereira e o senhor Carrelo”, explica. As duas figuras, hoje membros da Renamo, faziam parte daquilo a que Domingos designa de guerrilha urbana e de clandestinidade.


Sobre a comida, o interlocutor diz que a população é que abastecia a guerrilha.
Não vendemos a paz.
Alguns académicos têm demonstrado nas suas análises que tanto o Governo da Frelimo como a Renamo aceitaram a paz a troco de recursos de poder (materiais e simbólicos) oferecidos pela comunidade internacional. Assim, dizem, os Acordos de Roma permitiram à Frelimo capturar o Estado e a Renamo ter acesso aos fundos da indústria de desenvolvimento. Sem essas garantias nenhuma parte estava em condições de aceitar a paz que era promovida pela comunidade internacional. Raul Domingos não concorda dessa visão e argumenta: “em nenhum momento exigimos dinheiro para aceitar o que quer que fosse. Os nossos princípios não eram vendidos, por isso conseguimos ter um dos melhores acordos de paz até aqui se conseguiu em África”.
Para ele, a guerra não teria durado 16 anos se houvesse uma abertura para o diálogo por parte do Governo da Frelimo.


A falta de diálogo e de tolerância política, diz ele, é que criou a situação de guerra. “Esse conjunto de mentiras faz um colorado de informações que pretendem desvirtuar o verdadeiro sentido da guerra civil que aconteceu no país”, desabafa.


Mas admite que as despesas das suas deslocações a Roma eram suportadas pela Itália, através da Comunidade do Sant´Egídio.


Negociações
Depois de ter sido nomeado Chefe do Estado-Maior da zona sul em 1984, Raul Domingos foi transferido em 1987 para zona centro do país. Aqui ele desempenha as funções de chefe do Estado Maior - General a nível nacional. Dois anos mais tarde, é chamado para o gabinete do presidente do movimento para cumprir a missão de enviado especial para Quénia.


“Fui a Quénia para atender a um convite que tinha sido feito ao presidente da Renamo pelo presidente da Quénia. Foi lá onde encontrámo-nos pela primeira vez com o grupo dos clérigos moçambicanos, o Dom Alexandre, o Dom Jaime, o dom Dinis Singulane e o falecido pastor Ozias Mugache”. Depois da viagem para Quénia, Raul Domingos é desvinculado do Estado Maior - General para assumir o cargo de chefe das relações externas. “A partir dai comecei a acompanhar todo o processo de aproximação entre a Frelimo a Renamo”, conta, indicando que mais tarde viria a ser designado para chefiar a delegação da Renamo para o encontro directo com a delegação da Frelimo, que teve lugar em Junho de 1990 em Roma.


As negociações foram difíceis, porque era uma questão tolerância para ouvir opiniões contrárias, diz. “Enquanto uns nos viam como bandidos armados, nós tínhamos que fazer um esforço para que essa atitude mudasse e passassem a considerar-nos parceiros”.


Houve impasses nas negociações, “não chegávamos ao entendimento, cada parte voltava à sua posição”.


Sobre concessões, o interlocutor diz que foram muitas, e dá um exemplo: “Na questão da paridade nas forças de defesa e segurança, o nosso desejo era ter paridade nas Forças Armadas, na Polícia e no SISE. Mas acabámos cedendo na Polícia e no SISE, acabando por ficar com a paridade nas Forças Armadas onde os efectivos tinham de ser 50% de cada lado, os comandos também 50% de cada lado”.


“Uma negociação é dar e receber, não é uma imposição”, lembra, dizendo, porém, que a única imposição que o Renamo fez foi a instauração do Estado de Direito e de uma democracia multipartidária. “Chamo a isto de imposição porque existe um grupo ortodoxo na Frelimo que ainda acredita que o marxismo-leninismo seria o melhor modelo de governação”, justifica.
Dentro da Renamo também não era fácil convencer os membros sobre a necessidade de fazer algumas concessões. “É por isso que estou careca”, diz, entre risos. “Não foi fácil, tinha de passar a mão muitas vezes pela cabeça, tinha de engolir sapos, aceitar ouvir coisas que não queria ouvir”, recorda, dizendo o desafio era de encontrar termos apropriados para convencer internamente sobre as concessões a fazer e tecer argumentos para convencer a outra parte.
SAVANA – 01.10.2010

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

APARENTE CONTRADIÇÃO


Jesseir Coelho de Alcântara*


Homicídio: pena de 4 anos de reclusão


Tentativa de homicídio: pena de 8 anos de reclusão



No Direito Penal um caso concreto não pode ser comparado a outro, muito embora exista o chamado instituto da analogia (ponto de semelhança entre coisas diferentes).


Muitas vezes ouvimos comentários de pessoas leigas a respeito da aplicação da pena de um réu em sentença condenatória no Direito Penal. Elas se estarrecem ao comparar o resultado de um julgamento a outro, achando muita injustiça. O problema é que o Direito não é ciência exata e em muitas ocasiões, 2+2 pode não ser igual a 4.


Acontece muita estranheza, por exemplo, nos julgamentos ocorridos no júri popular. Em muitas situações, um acusado por homicídio é condenado a uma pena de quatro anos de reclusão. Já outro réu, apontado como autor de uma tentativa de homicídio, aparentemente menos grave, recebe condenação de oito anos de reclusão. Muitos pensam: que antagonismo! Que falta de nexo!


Mas, a realidade é exatamente essa: uma aparente contradição, porém justa.


A grande questão é que jamais um caso concreto pode ser comparado a outro, situação de difícil entendimento para quem não é jurista. Aliás, até juristas batem cabeça.


Quando da elaboração de uma sentença condenatória, o magistrado deve atentar para a materialidade do fato, a autoria ou participação do acusado, além de oito circunstâncias chamadas judiciais, previstas no artigo 59 do Código Penal. São elas: a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente, os motivos do crime, as circunstâncias do delito, as consequências do crime e o comportamento da vítima. Por aí já se vê que mui dificilmente essas circunstâncias serão sempre iguais em cada situação.


O juiz deve fixar a pena dentro dos limites legais. O julgador não pode limitar-se à apreciação exclusiva do caso, mas tem de considerar também a pessoa do criminoso, para individualizar a pena, conforme mandamento constitucional.


É por isso que na Constituição Federal (Lei Maior) existe o denominado princípio da individualização da pena. É um postulado básico da Justiça previsto dentro dos direitos e garantias individuais. Diz o dispositivo: “lei regulará a individualização da pena” (artigo 5º, XLVI). Em outras palavras: para cada réu, uma pena diferente será aplicada.


Além das circunstâncias judiciais acima apontadas, existem as circunstâncias legais, igualmente apreciáveis no decisório. Há conhecidas circunstâncias genéricas: circunstâncias agravantes e atenuantes (que aumentam ou diminuem as penas) previstas expressamente em lei, além das circunstâncias específicas, que podem ser as qualificadoras (exacerbam a pena), bem como as causas especiais de aumento ou diminuição da pena. Analisados todos esses critérios legais, o magistrado fixa a pena para o condenado.


Assim, realmente um condenado por um crime de homicídio pode ter uma pena menor do que um outro condenado pela prática de um homicídio tentado, gerando uma aparente contradição, entretanto extremamente legal.


Se a legislação é boa ou ruim, justa ou injusta, ela deve ser aplicada.


*Jesseir Coelho de Alcântara é juiz de Direito e professor em Goiânia-GO

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O QUE É BOM PARA OS EUA É BOM PARA O BRASIL

Emanuel Cancella, diretor do Sindipetro-RJ

Obama vem ao Brasil reforçar os interesses dos EUA no petróleo brasileiro. A vontade do governo brasileiro e da Petrobrás é transformar o país num grande exportador de petróleo, em detrimento de tratarmos esse bem como estratégico e produzi-lo na medida das necessidades internas

Essa é a frase famosa dita pelo então embaixador brasileiro nos EUA, Juracy Magalhães. Isso foi em 1964 às vésperas do golpe militar que resultou na ditadura militar. Hoje é sabido que os nossos anos de chumbo foram orquestrados pelo governo norte-americano, aliado dos militares brasileiros golpistas.

O presidente norte-americano Barack Obama visitará o Brasil em março com o mesmo pensamento de 1964, só que agora é uma questão de sobrevivência, pois é sabido que os EUA só têm petróleo para três anos. As convulsões sociais nos países africanos e no Oriente Médio complicam ainda mais a geopolítica do petróleo. Esses países são possuidores de grandes reservas de petróleo, bem como são os principais exportadores da matéria prima para o mundo, em particular para os EUA.

Por conta das turbulências no mundo muçulmano, o petróleo passou a casa dos cem dólares. Exportar petróleo desses países cada vez fica mais complicado, a exemplo do Iraque – país “dominado” pelos EUA e aliados. E aí entra em cena o Brasil – o gigante adormecido, deitado eternamente em berço esplêndido e com reservas gigantes de petróleo descobertas do Pré-sal.

No mundo inteiro, a geopolítica do petróleo é resolvida através de guerras, derrubada de governantes, ameaças de guerras: vejam o caso do Irã. No Brasil, Obama só precisa que aconteçam os leilões de petróleo.
Na política de petróleo, Lula avançou em relação a Fernando Henrique: deixamos de entregar todo nosso petróleo como propunha FHC, passando, com Lula, a entregar 70%. No marco regulatório de Lula, 30% de todos os blocos do Pré-sal são da Petrobrás e os restantes [70%] serão partilhados entre empresas privadas nacionais e multinacionais. Vence o leilão aquele consórcio que oferecer mais vantagens à União.

É isso que Obama vem reforçar: a vontade do governo e da Petrobrás de transformar o Brasil num grande exportador de petróleo. Ao invés de tratarmos esse petróleo como bem estratégico e produzir na medida das necessidades internas, já que somos autossuficientes na produção de petróleo, vamos virar um grande exportador para atender aos EUA.

E para desespero dos ambientalistas, já que o Brasil vai perder a oportunidade de diminuir a participação do hidrocarboneto na nossa matriz enérgica e de investir o próprio dinheiro do petróleo em geração de energias mais limpas e com isso contribuir com o política ambiental. Pela vontade do governo brasileiro, de Obama e da direção da Petrobrás vamos continuar a ser fornecedores de matéria prima para o mundo. E deixar a possibilidade de investir o dinheiro desse petróleo para erradicar as nossas mazelas sociais.

Imaginar que após a vitoriosa luta da campanha “O Petróleo é Nosso!”, onde brasileiros foram perseguidos, presos, mortos, agora vamos entregar (nos leilões) de mão beijada nosso petróleo. Quando o petróleo era um sonho, o povo foi às ruas, lutou e conquistou a Petrobrás e o Monopólio Estatal do Petróleo. Agora que o petróleo é uma realidade, nós vamos exportá-lo. É sair do sonho e entrar no pesadelo!

Data: 22/02/2011 Fonte: Agência Petroleira de Notícias Autor: Emanuel Cancella

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

GABRIEL NASCENTE: PRIMO & AMIGO



Hélio Nascente*


Conheci o primo Gabriel José Nascente quando tínhamos 19 anos de idade, por intermédio do outro primo, Carlos da Silva Nascente, em Goiânia, assim que me transferi para a capital do Estado, vindo de Pires do Rio, em 1969. Ele era já um poeta consagrado com seu livro Os Gatos.

Esse primo em terceiro grau é uma honra para o clã Nascente em Goiás e em todo o Brasil. Seu pai foi marceneiro originário de Urutaí, pioneiro de Goiânia, muito elogiado pelo Dr. Pedro Ludovico quando conheci o grande líder em 1976, assim como outros Nascente de Urutaí (Francisco de Paula Nascente, Chiquinho, Zico, José de Paula Nascente e Antônio Estrela Nascente (Tonico), pai do poeta. O ex-governador Mauro Borges também sempre quando o encontrava, derramava-se em elogios a esses primos pioneiros.

Gabriel, desde sua primeira obra, Os Gatos, publicada aos seus 16 anos de idade até agora, com mais de 40 livros publicados, o que o levou a ser escolhido para compor a honrada Academia Goiana de Letras, é sem dúvida alguma o nosso parente mais ilustre. Claro, temos o Mário de Paula Nascente em Santos-SP, também com livros jurídicos publicados, nosso primo em segundo grau, já octogenário.

É preciso esclarecer a razão de tantos Gabriel no nosso clã. Nosso bisavô, Gabriel de Paula Nascente e nossa bisavó, Ana Justina da Fonseca, saíram de Cláudio, Minas Gerais e se estabeleceram em Patos de Minas. Depois vieram para Goiás, em 1893, deixando na cidade mineira uma filha casada, daí termos parentes em Patos e descendentes por todo o Brasil. Até no Rio Grande do Sul, onde temos um primo, chamado Hélio David Borges Nascente, médico e membro do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente.

O pai do poeta Gabriel Nascente, Antônio, era irmão de minha avó, Maria das Dores Nascente, que deixou uma grande descendência. Daí sermos primos em terceiro grau. Descendentes de Gabriel de Paula Nascente e Ana Justina da Fonseca (que é parente de minha mãe. Esta é outra história!) são muitas pessoas ilustres, como o engenheiro Mário de Carvalho, ex-presidente do Clube de Engenharia de Goiás, neto de minha tia-avó Ubaldina de Paula Nascente e filho do meu primo e tio (casado com a irmã de minha mãe, Ana), José Pedro de Carvalho. Devido ao nome do nosso patriarca, não falta o nome Gabriel na nossa parentalha. Gabriel de Paula Nascente Filho, falecido em 1927; Gabriel de Carvalho Nascente, meu tio, falecido em 1990; Gabriel de Carvalho Mendonça, residente em Morrinhos; Gabriel de Paula Silveira, residente em Morrinhos; Gabriel de Paula Nascente, advogado em Goiânia; Gabriel Fetter de Paula Nascente, meu filho, residente no Rio Grande do Sul.

Ao poeta Gabriel José Nascente, portanto, nosso primo, irmão e amigo, a nossa homenagem por sua merecida posse como membro da Academia Goiana de Letras, da qual vários amigos são integrantes e lhe deram o voto. E nossa torcida para que venha a ser imortalizado como membro da Academia Brasileira de Letras.

Fonte foto Gabriel Nascente: http://www.google.com.br/images?hl=pt-br&source=imghp&biw=1596&bih=728&q=gabriel+nascente&btnG=Pesquisar+imagens&gbv=2&aq=f&aqi=&aql=&oq=

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

ESCRITOR DA GUINÉ EQUATORIAL EM GREVE DE FOME CONTRA DITADURA DE OBIANG



Por Isabel Gorjão Santos*



Juan Ávila Laurel faz apelo ao presidente do Parlamento espanhol no dia da sua visita a Malabo.


O escritor da Guiné Equatorial Juan Tomás Laurel entrou em greve de fome contra a situação no seu país e escreveu uma carta aberta ao presidente do Parlamento espanhol, José Bono Martínez. Pediu-lhe que faça pressão para promover o fim da ditadura do general Teodoro Obiang.


A carta aberta foi disponibilizada na página do Facebook de Juan Tomás Ávila Laurel, a poucas horas de José Bono Martínez chegar a Malabo, capital da Guiné Equatorial, para uma visita oficial de uma delegação parlamentar espanhola. Nela é pedido ao presidente do Parlamento espanhol para que faça “pressão para que seja constituído na Guiné Equatorial um Governo de transição de que não faça parte ninguém que tenha ocupado cargos políticos ao longo dos últimos 32 anos”. Laurel adianta: “Já não podemos continuar a viver debaixo de uma ditadura que nos consome a alma”.


Teodoro Obiang chegou ao poder em 1979, assumiu no mês passado a presidência da União Africana e tem pretensões a integrar a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O seu regime tem sido marcado por violações de direitos humanos que desencadearam o protesto de Juan Tomás Laurel, um dos mais conhecidos escritores da Guiné Equatorial, autor de obras como “A carga” ou “Nada tem boa fama neste país”.


O texto é uma crítica à visita de José Bono Martínez, que causou polémica em Espanha, mas é sobretudo um apelo. “Senhor Bono, a única coisa que desejamos é que consiga que Obiang, o seu filho Teodorín, a primeira-dama Constância, os irmãos e primos generais e coronéis que sustentam este inqualificável poder, consigam um asilo num país seguro. Cremos que uma terça parte do dinheiro guardado no estrangeiro por apenas um deles dê para viverem até ao resto dos seus dias”.


Juan Tomás Laurel participa frequentemente em conferências em universidades norte-americanas sobre língua e literatura espanholas e é autor de um blogue na revista digital “FronteraD” intitulado “Malabo”, no qual aborda questões relacionadas com a vida na Guiné Equatorial. Na sua carta deixa um alerta ao presidente do Parlamento espanhol. “Não é justo deixar a minha vida nas suas mãos, mas tenho que reconhecer que o que acontecer com ela dependerá muito de si.”


Visita contestada

O apelo deste académico da Guiné Equatorial não teve qualquer comentário do Presidente do Parlamento espanhol, que se encontra em Malabo. Esta antiga colónia de Espanha é o terceiro país produtor de petróleo da África Subsariana – produz cerca de 600 mil barris por dia –, e segundo a agência EFE Bono Martínez já prometeu enviar a Obiang uma lista de empresas espanholas que estão dispostas a investir no país. Aliás, o principal objectivo da visita é facilitar a participação de Madrid na exploração de petróleo guineense, que em breve deverá atingir o milhão de barris diários.
Estava previsto um encontro com o deputado Plácido Micó, o único opositor que tem assento no Parlamento da Guiné Equatorial em representação do partido democrático Convergência para a Democracia Social, mas o encontro acabou por ser adiado porque Micó se encontra fora do país.


A visita foi contestada por diversos partidos em Espanha, mas a ministra dos Negócios Estrangeiros, Trinidad Jiménez, autorizou-a ao defender que “a diplomacia parlamentar faz parte do modo de nos relacionarmos”. No editorial do “El País” lia-se hoje que, com esta visita, Espanha cometeu “dois erros pelo preço de um”, porque “Jiménez não fez mais do que prolongar a estratégia do seu antecessor [Miguel Ángel Moratinos], que efectuou uma das visitas mais espectaculares da política externa espanhola a Malabo”, enquanto Bono “rompeu com a atitude firme que manteve o anterior presidente do Parlamento, Manuel Marín”. Com esta visita, adianta o “El País”, os parlamentares espanhóis “presentearam o ditador com um desagravo para o qual não teve mérito algum”.


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

WALDIRE LAUREANO BATISTA

Hélio Nascente*

Seu pai, Antônio Laureano Marques, era lavrador e vivia de agregado numa fazenda chamada Monjolinho, em Anicuns-GO. Dois meses após seu nascimento seu pai mudou-se para Trindade, onde Waldire viveu até os dois anos de idade. Daí a família foi para São João da Paraúna e Aurilândia – a fazenda adquirida por seu pai abrangia os dois municípios – e tinham convivência em ambas as cidades. Ficou ali até os seis anos e com o falecimento de seu progenitor sua mãe, Maria ..... do Espírito Santo viu-se viúva com dez filhos e acometida de tuberculose – a penicilina ainda não havia chegado na região – foi para Belo Horizonte submeter-se a tratamento, permanecendo durante seis anos – e os filhos ficaram órfãos de pai e mãe, irmão criando irmão.

Aos seis anos transferiu-se com todos os irmãos para Goiânia, morar na casa da tia paterna Genoína, e imediatamente já começou no trabalho, juntamente com outros, enquanto as duas mais velhas cuidavam da prole toda. Ficaram com a tia até o regresso da mãe, que havia retirado um pulmão e passou o resto da vida nesse estado, tendo falecido avançada em dias, aos 88 anos de idade – mais de 60 anos com um só pulmão. Daí em diante a família toda ficou residindo em Goiânia, todos trabalhando e estudando, mas nas férias iam para a fazenda trabalhar, capinar roça e exercer outras atividades próprias do campo. Assim, foi um crescimento debaixo da luta, da busca incessante do ganha pão, ao lado da ascensão no conhecimento, não faltando à sala de aula.

Ao concluir o curso secundário, Waldire iniciou o curso Normal (Magistério)na Escola Municipal Alfredo Nasser, transferindo-se posteriormente para o Instituto de Educação de Goiás (IEG), localizado na Vila Nova, onde praticamente só estudavam mulheres, mas havia também como seu contemporâneo, um moço que era jogador de futebol no Vila Nova E. C. chamado Flávio, apenas um ano na frente. Formando-se este colega, Waldire ficou sozinho no meio de mil colegas do sexo feminino. Concluindo o segundo grau, foi para o Instituto Rio Branco, a convite de Manoel de Jesus de Oliveira – Prof. Izu – e José Carlos de Almeida Debrey, seus amigos, em vista da sua situação financeira difícil, deram-lhe um emprego, passando a editar com eles a Revista Pênalti, e lhe deram o cursinho de graça, o que possibilitou que fosse aprovado no vestibular de Direito em três universidades, para os cursos de Historia, Educação Física e Direito, tendo optado pela carreira jurídica, bacharelando-se na Faculdade de Direito de Anápolis – Fada (hoje UniEvangélica) – em 1976. Em seguida fez curso de pós-graduação de dois anos em Direito Agrário na Universidade Federal de Goiás – UFG. O curso foi ministrado por grandes expertos em Direito Agrário do Brasil, da USP e de outras grandes universidades. Dos professores da própria UFG Waldire recorda-se do célebre agrarista Paulo Tormimm Borges.

Waldire recorda com viva saudade seu tempo da faculdade em Anápolis, não regateando elogios a Instituição, garantindo que, na época, era o melhor curso de Direito de Goiás, lembrando que, da sua turma de 160 bacharelandos, 90 foram aprovados no exame da OAB, lembrando também que dali surgiram vários juízes e cerca de 15 delegados de Polícia.

Uma vez formado e de posse da carteira da OAB, Waldire Laureano Batista estabeleceu-se como advogado em Goiânia, tendo dedicado sua vida profissional principalmente ao Direito de Família, defendendo os direitos das mães solteiras, como reconhecimento de paternidade de crianças, pensão alimentícia, atividade que propicia a ele grande satisfação, contribuindo para mudar a cabeça de muitos pais que põem filhos no mundo sem atentar para a mínima responsabilidade com seus atos irresponsáveis. Diante do que já vivenciou nesse sentido, o advogado sempre lutou para uma melhoria na legislação, no sentido de dar dignidade às crianças filhas de mães solteiras e agora está sentido que o País tem avançado ultimamente.

Dedicou-se também ao Direito Penal, mas jamais defendeu bandidos, isso por uma questão de princípios; sempre defendeu pessoas que cometiam erros eventuais, mas, uma vez reincidindo seus clientes, ele não os defendia mais. Tem isso como parte da sua filosofia de vida afirma que o homem tem de ter sua filosofia de vida, sua conduta de achar o que é certo e o que é errado. Assim, diante daquilo que ele achava ser errado, nem por milhões ele faria a defesa da pessoa. Nunca gostou de badalação, de exaltação do seu nome, jamais deu entrevista à imprensa sobre suas vitórias mais notáveis na Justiça.

Waldire dedicou-se também ao Magistério, tendo ministrado aulas de Organização Social e Política Brasileira (OSPB), Educação Moral e Cívica e História em todos os níveis iniciais do currículo escolar. Passou pelo Instituto São Tomás de Aquino e em outra escola. Foi sindicalizado no Sindicato dos Professores e o último ano em que ministrou aula foi 1972, quando já estava fazendo o curso de Direito em Anápolis. Passou também pela vida jornalística, tendo trabalhado em várias revistas e jornais, até em O Popular – onde pontificava na coluna esportiva o célebre Vicente Terra – a quem auxiliou durante um ano, fazendo uma página diária.

Quando estudava na Escola Técnica Federal de Goiás ele fundou o jornal estudantil O Industrial e nas suas páginas publicou artigos fortes contra a ditadura, tendo sido até reproduzidos algumas dessas matérias no jornal Cinco de Março, foi entrevistado uma vez pelo diretor desse importante órgão da imprensa goiana, Batista Custódio sobre o jornalzinho que ele estava editando, porque gostou, achou muito interessante.

Quando trabalhava no jornal Gazeta de Goiás, de propriedade dos jornalistas Bereuci e Walter Menezes, ocorreu um fato que marcou mais sua atuação na imprensa, quando ele, como repórter, descobriu um garoto que estava hospitalizado num importante hospital do Centro da cidade de Goiânia para ser submetido a uma cirurgia, mas quando os médicos descobriram a mãe era pobre, desprovida de recursos para arcar com os altos custos do procedimento, como já haviam iniciado, simplesmente fecharam sem concluir o trabalho. Waldire fez a reportagem contando o fato e levou para o jornal, sendo publicada com manchete na primeira página. Aconteceu que o presidente da Republica da época, marechal Costa e Silva, tomou conhecimento do fato em Brasília e telefonou imediatamente para o então governador de Goiás, Otávio Lage, inquirindo dele das providências que o governo de Goiás estaria tomando a respeito do caso, ouvindo como resposta que iriam ser tomadas providências imediatas. Entretanto, decorrida uma semana, um assessor da Presidência da República telefonou novamente para o governo, perguntando se já havia sido resolvido o problema da criança e só então as autoridades saíram rapidamente à procura da mãe da criança, providenciaram a cirurgia, que foi realizada com sucesso. Correu a notícia que Costa e Silva deu uma tremenda bronca diante da demora na solução do urgente problema, dizendo que se o governo goiano não resolvesse, ele iria pagar para a realização da cirurgia.

Passados cerca de seis meses a mãe da criança chegou na redação do jornal para agradecer com muita emoção a iniciativa que salvou a vida do seu pequeno filho. Waldire considera essa reportagem que ele fez, por volta de 1968, o acontecimento número um da sua vida como jornalista, o fato que mais o marcou na carreira jornalística.

Quando fazia o curso de Admissão ao Ginásio, já havia lido o Manifesto Comunista, de Marx, era diferente de todos os seus irmãos, sendo o único que gostava de ler na família de sua mãe, enquanto os outros se preocupavam só em ganhar dinheiro, Waldire tinha também a preocupação de estudar, de saber das coisas, ou seja, foi um filósofo precoce, de maneira que quando fazia a terceira serie do ginásio ele já era redator de jornais, exatamente porque lia muito e passou a conviver com Brasigóis Felício, que também já escrevia no jornal Cinco de Março, e passaram a ser amigos íntimos e essa amizade permanece até os dias de hoje. A mãe do poeta era viúva, ele tinha um irmão, eles moravam na Vila Santa Helena e Waldire frequentemente pernoitava lá, tal era o grau de amizade e fraternidade que o unia a toda a família Felício.

Desde cedo começou a escrever bem, os professores liam suas redações na sala de aula, e sempre tirava nota dez nas suas composições, tendo assim descoberto sua vocação para as letras e começou a escrever poesia desde seu tempo de ginasiano, ainda na adolescência, apenas para mostrar para os colegas, mas posteriormente, quando já estava fazendo o Curso Normal, escrevia versos, saíram algumas no jornal O Popular e na Folha de Goiás, mas nunca publicou livros e o seu maior incentivador, que fez um grande esforço foi Luiz de Queiroz, que levou seus poemas e levou para a Editora Kelps e fez com que publicasse seu primeiro livro, em 1996, com o título de Chão Encantado de nossos Avós. Em seguida Waldire lançou Poema da Vida Terrestral, depois Espelho do Amanhecer – em português e espanhol – porque nas suas andanças pelo planeta aprendeu a ‘arranhar mais alguns idiomas’.

Mas antes de publicar esses três livros, seus poemas apareceram em três antologias no Rio de Janeiro, em duas em que participou em Goiânia em duas edições do poeta Gabriel Nascente – A Voz dos Inéditos (1979) e Cinqüenta Anos de Poesia (2006) –

Segundo Waldire, “dizem que a mulher tem a menopausa e o homem tem a andropausa”, daí ele achar que estava entrando nessa fase quando decidiu empreender viagens para o exterior. Ele diz que estava passando por muita angústia, achava que no Brasil estava tudo errado, sentindo-se muito revoltado com o caos político, com a falta de patriotismo dos brasileiros, aquilo o revoltava muito, ele sempre foi contestador, apoiava nas ruas a posse do presidente João Gouart, e entende que foi aí que o Brasil perdeu o trem da história, porque ele pretendia realizar as reformas de que o Brasil necessitava, mas como os militares não permitiram com o golpe de 64, o Brasil perdeu o trem da história, porque iam ser feitas todas as reformas e hoje o Brasil não estaria no que está hoje, talvez estivesse competindo com os Estados Unidos, se tivessem deixado João Goulart terminar seu governo.

Como já havia advogado durante 16 anos, saiu do país e ficou durante seis anos ininterruptos no exterior, quando retornou, fê-lo para ficar. Ele considera que foram muito positivas suas andanças pelos diversos países, tendo visto como é feita a escravidão dos países mais pobres, presenciou como é que a coisa funciona, viu com clareza como os americanos trabalham para dominar o mundo. Ele viu que o americano é um povo muito egoísta, que são capazes de matar a própria mãe por dinheiro; na França ele sentiu o quanto o francês é racista; achou que o inglês é mais cordial, não sentiu em momento algum o racismo na Inglaterra; diz que sentiu a presença do racismo também em Portugal. Mas o que o marcou mais mesmo, que ele enfatiza é o fato de que ele considera os americanos um povo ordinário, que só pensa no dinheiro; no Canadá ele sentiu a presença do racismo no dia em que teve problema com a imigração, quando foi xingado com palavras de baixo calão e muito humilhado, mas, mas declara ter gostado muito do Canadá, também da cidade americana de Nova Iorque, que chegou a amar, mas não tem nada mais a fazer lá, uma vez que o que ele queria saber, já sabe.

Para sobreviver nos países em que esteve, Waldire lavava pratos, entregava comida, trabalhou durante quase dois anos numa boate, que foi seu melhor serviço. Segundo ele, arrumar namorada não é fácil, porque o brasileiro é muito discriminado, visto como pessoa sem formação, sem educação. Como seu visto venceu, teve problemas com a imigração no Canadá e chegou a ser preso nos Estado Unidos, ficando durante dois dias num cômodo, sentado numa cadeira, ele e uma amiga índia da tribo dos carajás chamada Dakterê, a quem conheceu quando era delegado de Polícia no Tocantins, e uma dia essa mulher o procurou em Goiânia e passaram a viver juntos, ficando quase quatro anos com uma vida em comum.

Durante um período Waldire exerceu o cargo de delegado de Policia no Tocantins, mas ele lembra que a necessidade de algemar as pessoas o incomodava muito, porque sempre foi de princípios humanistas; também a corrupção na Polícia era muito grande e ele vendo os colegas nessa prática para ele abominável, embora fosse uma minoria, mas havia casos em que prendiam traficantes com, por exemplo 10 kg de cocaína, ficavam com a ‘mercadoria’, soltavam os presos e vendiam o produto para outras pessoas. Waldire foi ficando descontente com isso e chegou um dia que em que foi ao cienema assistir um filme pornográfico e constatou que havia muitos adolescentes assistindo ele fechou o cinema, prendeu os todo mundo e havia vários filhos de políticos e então recebeu ordem do secretário de Segurança Pública, que não era para processar ninguém, mas mesmo assim abriu o inquérito, não prendeu ninguém, mas foi liberando à medica que ouvia os indiciados. Teve um bate boca com o secretário, fato que foi a gota d’água e ele requereu seu afastamento da Polícia Civil, não foi aceito, mas ele abandonou o cargo, retornou para Goiás e nunca mais voltou. Todos esses acontecimentos deram-se em Miracema do Tocantins, quando era capital provisória do Tocantins. Outro fato que o contrariou muito foi o fato de que a Polícia Militar do Tocantins tinha uma rixa com a Polícia Civil e ele tentava desfazer aquele clima, tinha um bom relacionamento com os oficiais, mas um dia um dia um deles chegou na Delegacia dando-lhe ordens numa coisa que não era certa, e Waldire disse a ele que ele é quem dava as ordens. Cerca de seis meses depois disso, ele foi parado numa blitz e o sargento que estava acompanhando o mesmo oficial, com dois soldados, apontaram-lhe armas e quiseram dar busca e surgiu uma acalorada discussão. Ele levou o fato ao conhecimento dos oficiais superiores com quem tinha amizade, mas ficou por isso mesmo e isso também foi um dos motivos que o fizeram deixar o cargo de delegado, ou seja, a corrupção e essas que havia entre a Policia militar e a policia civil.

O escritor Waldire esta escrevendo mais um livro, de conteúdo poético suave, que não critica ninguém, é profundo, fala do amor, da beleza da vida, da filosofia, que só fala do lado bom da vida.

A corrente doutrinaria jurídica que o Dr. Waldire mais admira é a do Dr. Washington de Barros Monteiro, já falelcido, de quem possui as obras completas em sua estante de literatura jurídica. Segundo ele, esse autor deixou uma obra de fácil compreensão até por leigos e tem uma profundidade, vê o lado social sob a ótica do Direito Cível.

Waldire tem um filho cujo nome é Gabriel.

Hoje tem uma namorada de quem ele gosta muito, chamada Lucilene Passos Cunha, com irá casar-se no próximo dia 15 de março de 2009 em São Luiz de Montes Belos.

Sobre a genealogia dos Laureano, surgiu a idéia de uns parentes de Waldire residentes em Trindade, que tomaram a iniciativa de fazer uma reunião e na primeira reuniram-se três, hoje estão comparecendo mais de 150, sendo a reunião de três em três meses. Foi contratado um genealogista que pesquisou e descobriu que a origem do clã é de uma cidade da Itália de nome Lauria, onde foi construído um mosteiro, em torno do qual foram sendo construídas algumas casas e com o tempo surgiu lentamente um povoado; e, como naquela época – as cidades tinham de se proteger, foi criado um escudo com rajas de prata, como defesa contra ataques de possíveis inimigos. De maneira que o nome Laureano deriva de Lauria, cidade da Itália meridional. A reunião trimestral é muito bonita, com muita fraternidade e cordialidade, encontram-se parentes que há muito não se veem. No final de cada acontecimento fica nomeado um parente para organizar a próxima, e sempre acontece em cidades diferentes.

A TRANSPARÊNCIA DA CORTINA DE JASMIM, A VIDA DE DONA LENA



Sônia Ferreira*






A chuva cantava e beijava o caminho. Naquele beijo quente e inesperado, o calor do chão seco a transformava em fumaça mágica, geradora de novas nuvens, ninho de uma bateria em percussão e emoções, acompanhando a cerca verde da Chácara Santa Cruz.

Chegara-se ao portão de entrada. Não era uma chácara. Era um paraíso. Tudo fazia parte do ritual da celebração: árvores maiores, arbustos, plantas rasteiras, trepadeiras, carregadinhas, ora de flores, ora de frutos, sempre de folhas soltas, leves, bailarinas ao vento, dançando na chuva e cantando também. Durante anos, uma semeadora passara sucessivamente por ali. As entranhas da terra responderam à magia de seus dedos verdes. Tudo brotava, tudo crescia, tudo florescia, tudo respondia ao adubo de seu afeto, à ternura da chuva mansa, com que Deus germinava cada semente.

O casarão, iluminado pelos candelabros, pelas arandelas, pelas obras de arte, pela poesia do bom gosto da semeadora e de seu esposo, pelo carinho dos netos, dos filhos, das noras e dos genros, estava de portas, janelas e corações abertos. As flores silvestres, os bombons, as rosas da polpa de coco e as perfumadas do jardim dispuseram-se artisticamente sobre uma belíssima toalha bordada, como damas de companhia ao grande bolo de aniversário: Dona Lena Castello Branco completava 80 anos.

Anestesiados pelo encantamento, de longe os amigos observavam o cenário revelado pelas janelas e portas, abertas e iluminadas. Do lado de fora, os pássaros faziam vôos rasantes, assim como as borboletas, as mariposas e as abelhas, num ziguezague silencioso, com reverência à celebração. A fauna e a flora, nos seus cantos e silêncio, de modo especial naquela noite, rezavam “parabéns pra você”. Os amigos chegavam, um a um, uma a uma, trazendo mimos carinhosos à nordestina que virou goiana, em essência e atitudes.

De Goiânia, de Trindade, de Brasília, de outras plagas, a cidade abraçava a natureza, cujo núcleo central era Dona Lena, menina simples e elegante, em cada uma de suas oito décadas de vida e obra. Pesquisadora, historiadora, professora universitária, contista, não perdera a grandeza da simplicidade, não perdera a elegância das atitudes, nem a seriedade da busca da verdade, em suas pesquisas históricas. Vida escrita pela inesquecível infância, pela marcante adolescência, pela idade adulta, sempre rejuvenescida pela efervescência e encantamento dos netos, pela admiração da família e dos amigos, pela busca contínua do conhecimento e pelo cultivo de sentimentos nobres.

Sob a regência de Dr. Floriano, seu esposo, a criatividade de cada neto gerou fogos de artifício e a vida da aniversariante virou um show na terra e no céu. Antes, Maria Eugênia cantou e encantou. Trouxe para o palco dos olhos e das almas seu repertório raiz; depois, os velhos carnavais. O violão do diretor musical Luiz Chaffin deslumbrava cada presença e arrancava aplausos ao instrumentista e à doce e cativante cantora, sua, e esposa do Araguaia.

Cada cena, cada ternura no acolhimento aos amigos, era um aperitivo delicioso ao jantar, sagrada ceia naquele cenário, em que tudo participava do ritual da celebração: Dona Lena, o esposo, os filhos, os genros, as noras, os netos, comungando e distribuindo o amor.

Padre Alcides presidia a celebração, no coração da natureza, num recanto de Goiás, pertinho de Trindade, Capital da Fé. Bateu o sino. Falou lindo um poema improvisado, cantando e anunciando o “ amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”. Anunciou Cristo, e quis que Ele se encontrasse com cada um de nós. Na capela, a cortina de jasmim, em fios de flores, perfumou o abraço dos noivos, renoivados naquela emoção, brindada por uma valsa de aniversário. E Deus não se arrependeu de ter criado o mundo.

*Sônia Ferreira é escritora

Foto Sônia Ferreira:

http://www.google.com.br/images?hl=pt-br&source=imghp&biw=1020&bih=567&q=s%C3%B4nia+ferreira&gbv=2&aq=f&aqi=&aql=&oq=

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

GABRIEL NASCENTE, O POETA ETERNO DE GOIÁS


Giovani Ribeiro Alves*

(Foto Gabriel Nascente: http://www.revista.agulha.nom.br/gnascente.jpg)
Não sou poeta, “Bié”, sou apenas um aprendiz de filósofo, um professorzinho de Filosofia no ensino médio, que nem teto salarial possui. Contigo porém, aprendi o encanto das palavras, viajei com os seus versos nos devaneios linguísticos, onde habita o ápice da poesia que encanta os homens de boa vontade e os fazem sonhar mais um pouco, ante as desilusões da vida. Gabriel Nascente, oriundo das margens do Botafogo e da velha matinha do Mutirama, de Goiás para o mundo e do mundo para a imortalidade da sua escrita, que varia entre os versos carregados de nuvens do pessimismo Shopenhauriano, até as mais altas constelações dos verbos que nos ensinam a sonhar o sonho dos poetas.

O tempo te fez eterno menino, eterno nos sonhos, uma boca insaciável para clamar por justiça, versos inéditos que em sua mente borbulham o burburinho da angústia, desejo de consertar o mundo com uma poesia, voracidade poética na luta constante de tentar fazer acordar o mundo. Muitos ainda dormem, “Bié”, quem os acordará ? “O anjo torto de Drumond”? Ou a canção de rua que faz os homens acordarem cedo com “o toque da gaita do menino pobre”, filho do eterno fabricador de móveis do Bairro Popular? A aurora ainda paira sobre teus cabelos grisalhos e por isso a poesia ainda precisa de você, Goiás precisa de você, o Brasil precisa de você, o mundo precisa de você.

Continua, “Bié”, a saciar-te nas densas águas imorredouras do verso divino e banhas sempre na luz do poema oculto, revelado somente aos poetas que sabem chorar. A rosa da manha de verão desabrochou e sorriu para você, então agora não podes mais voltar atrás, fostes batizado no sangue dos que se imortalizaram poeta e ressurgiu das cinzas de um Gabriel, nascente e vitorioso, para deixar gravado no coração dos goianos o teu verso da grande manhã. O tempo não esquecerá de ti, pois o seu canto de herói sonhador, será ouvido sempre que a poesia existir no chão dos goianos sonhadores.

*Giovani Ribeiro Alves, filósofo, professor de Filosofia na Rede Pública Estadual de Goiânia. Pastor evangélico, membro da Assembleia de Deus do Bairro de Campinas, escritor, membro da Associação Goiana de Imprensa e articulista do Diário da Manhã – giovaniribeiro42@gmail.com).

Fonte: Diário da Manhã - Goiânia-GO
http://www.dm.com.br/#!/258335

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ALESSANDRO BURGOMANERO – Maestro


Nascido em Roma, formou-se com o título de Mestre na Escola Superior de Música "MOZARTEUM" de Salzburg, na classe do violinista Ruggiero RICCI. Continuou seus estudos com renomados violinistas como Boris BELKIN (Siena), Salvatore ACCARDO (Cremona) e Rodolfo BONUCCI. Apresentou-se como solista frente a várias orquestras tais como, Orquestra de Câmara de Budapest, Philadelphia Virtuosi Chamber Orchestra, London Mozart Players, Virtuosos de Salzburgo, Orquestra de Câmara de Berlim, Orquestra “Sinfonietta” Salzburg, Kremlin Chamber Orchestra (Rússia), Salzburg Chamber Soloists, Bachiana Chamber Orchestra na Sala São Paulo e com a maioria das orquestras sinfônicas brasileiras. Em 2002 realizou a primeira execução brasileira do Concerto nr. 2 para Violino de Schostakovich, acompanhado pela Orquestra Sinfônica do Paraná. Atualmente é professor de violino UFG/Goiás, e diretor artístico da Orquestra de Câmara Goyazes.

ShoW Sertanejo - BRUNO e LEANDRO


- Vem aí Grande
ShoW Sertanejo
Com BRUNO e LEANDRO

e participação especial de GLENO ROSSI

Nesta sexta feira 04 de
fevereiro, na FELLINUS DANCE

COM PÚBLICO SELECIONADO, SEMELHANTE A FESTA DOS ANOS 80 !

Terá sorteio de CDS e camisetas da
Dupla

HOMENS : 10,00

MULHERES : 5,00

BRUNO e LEANDRO

GLENO ROSSI

NãO Percam !!!



Dúviidas falar com a Bruninha ou com Edval no Nosso
Bar.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

PRÓ-RIMA



Rui Gonçalves Doca*



Dizem que prosa não aceita rima.
Visto por cima, pode ser verdade;
Mas eu que tenho os olhos mais em baixo,
Digo o que acho; - uma banalidade!


Quando isso ocorre ocasionalmente,
Julgo prudente ser mantido impune
Quem sempre esteve certo até aqui
E sobre si mais culpa não reúne.


De há muito, há aprosa impregnando o verso;
Escolho imerso na arrebentação...
Porque não pode conviver aquela
Sem mais querela e sem presunção,


Com a rima humilde e despretensiosa,
Qual uma rosa em seu hibridismo?
Daí se colhem as flores mais lindas!
Mais do que as vindas do separatismo.


Se as demarcações estão diluídas,
Quedam rompidas todas as fronteiras.
Onde os limites foram removidos,
Não há vencidos. Caem-se as barreiras...


Mesmo que afirmem ser literatice,
Alguém já disse – ser a terra plana!
Muitos lutaram por um ideal;
Mas afinal, qualquer um se engana!


Do livro: Quando voam as Borboletas


*Rui Gonçalves Doca é escritor, associado à Associação Goiana de Imprensa e membro da loja maçônica Liberdade e União, de Goiânia-GO.


Fonte: Jornal Liberdade e União
www.liberdadeeuniao1158.com.br