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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

WALDIRE LAUREANO BATISTA

Hélio Nascente*

Seu pai, Antônio Laureano Marques, era lavrador e vivia de agregado numa fazenda chamada Monjolinho, em Anicuns-GO. Dois meses após seu nascimento seu pai mudou-se para Trindade, onde Waldire viveu até os dois anos de idade. Daí a família foi para São João da Paraúna e Aurilândia – a fazenda adquirida por seu pai abrangia os dois municípios – e tinham convivência em ambas as cidades. Ficou ali até os seis anos e com o falecimento de seu progenitor sua mãe, Maria ..... do Espírito Santo viu-se viúva com dez filhos e acometida de tuberculose – a penicilina ainda não havia chegado na região – foi para Belo Horizonte submeter-se a tratamento, permanecendo durante seis anos – e os filhos ficaram órfãos de pai e mãe, irmão criando irmão.

Aos seis anos transferiu-se com todos os irmãos para Goiânia, morar na casa da tia paterna Genoína, e imediatamente já começou no trabalho, juntamente com outros, enquanto as duas mais velhas cuidavam da prole toda. Ficaram com a tia até o regresso da mãe, que havia retirado um pulmão e passou o resto da vida nesse estado, tendo falecido avançada em dias, aos 88 anos de idade – mais de 60 anos com um só pulmão. Daí em diante a família toda ficou residindo em Goiânia, todos trabalhando e estudando, mas nas férias iam para a fazenda trabalhar, capinar roça e exercer outras atividades próprias do campo. Assim, foi um crescimento debaixo da luta, da busca incessante do ganha pão, ao lado da ascensão no conhecimento, não faltando à sala de aula.

Ao concluir o curso secundário, Waldire iniciou o curso Normal (Magistério)na Escola Municipal Alfredo Nasser, transferindo-se posteriormente para o Instituto de Educação de Goiás (IEG), localizado na Vila Nova, onde praticamente só estudavam mulheres, mas havia também como seu contemporâneo, um moço que era jogador de futebol no Vila Nova E. C. chamado Flávio, apenas um ano na frente. Formando-se este colega, Waldire ficou sozinho no meio de mil colegas do sexo feminino. Concluindo o segundo grau, foi para o Instituto Rio Branco, a convite de Manoel de Jesus de Oliveira – Prof. Izu – e José Carlos de Almeida Debrey, seus amigos, em vista da sua situação financeira difícil, deram-lhe um emprego, passando a editar com eles a Revista Pênalti, e lhe deram o cursinho de graça, o que possibilitou que fosse aprovado no vestibular de Direito em três universidades, para os cursos de Historia, Educação Física e Direito, tendo optado pela carreira jurídica, bacharelando-se na Faculdade de Direito de Anápolis – Fada (hoje UniEvangélica) – em 1976. Em seguida fez curso de pós-graduação de dois anos em Direito Agrário na Universidade Federal de Goiás – UFG. O curso foi ministrado por grandes expertos em Direito Agrário do Brasil, da USP e de outras grandes universidades. Dos professores da própria UFG Waldire recorda-se do célebre agrarista Paulo Tormimm Borges.

Waldire recorda com viva saudade seu tempo da faculdade em Anápolis, não regateando elogios a Instituição, garantindo que, na época, era o melhor curso de Direito de Goiás, lembrando que, da sua turma de 160 bacharelandos, 90 foram aprovados no exame da OAB, lembrando também que dali surgiram vários juízes e cerca de 15 delegados de Polícia.

Uma vez formado e de posse da carteira da OAB, Waldire Laureano Batista estabeleceu-se como advogado em Goiânia, tendo dedicado sua vida profissional principalmente ao Direito de Família, defendendo os direitos das mães solteiras, como reconhecimento de paternidade de crianças, pensão alimentícia, atividade que propicia a ele grande satisfação, contribuindo para mudar a cabeça de muitos pais que põem filhos no mundo sem atentar para a mínima responsabilidade com seus atos irresponsáveis. Diante do que já vivenciou nesse sentido, o advogado sempre lutou para uma melhoria na legislação, no sentido de dar dignidade às crianças filhas de mães solteiras e agora está sentido que o País tem avançado ultimamente.

Dedicou-se também ao Direito Penal, mas jamais defendeu bandidos, isso por uma questão de princípios; sempre defendeu pessoas que cometiam erros eventuais, mas, uma vez reincidindo seus clientes, ele não os defendia mais. Tem isso como parte da sua filosofia de vida afirma que o homem tem de ter sua filosofia de vida, sua conduta de achar o que é certo e o que é errado. Assim, diante daquilo que ele achava ser errado, nem por milhões ele faria a defesa da pessoa. Nunca gostou de badalação, de exaltação do seu nome, jamais deu entrevista à imprensa sobre suas vitórias mais notáveis na Justiça.

Waldire dedicou-se também ao Magistério, tendo ministrado aulas de Organização Social e Política Brasileira (OSPB), Educação Moral e Cívica e História em todos os níveis iniciais do currículo escolar. Passou pelo Instituto São Tomás de Aquino e em outra escola. Foi sindicalizado no Sindicato dos Professores e o último ano em que ministrou aula foi 1972, quando já estava fazendo o curso de Direito em Anápolis. Passou também pela vida jornalística, tendo trabalhado em várias revistas e jornais, até em O Popular – onde pontificava na coluna esportiva o célebre Vicente Terra – a quem auxiliou durante um ano, fazendo uma página diária.

Quando estudava na Escola Técnica Federal de Goiás ele fundou o jornal estudantil O Industrial e nas suas páginas publicou artigos fortes contra a ditadura, tendo sido até reproduzidos algumas dessas matérias no jornal Cinco de Março, foi entrevistado uma vez pelo diretor desse importante órgão da imprensa goiana, Batista Custódio sobre o jornalzinho que ele estava editando, porque gostou, achou muito interessante.

Quando trabalhava no jornal Gazeta de Goiás, de propriedade dos jornalistas Bereuci e Walter Menezes, ocorreu um fato que marcou mais sua atuação na imprensa, quando ele, como repórter, descobriu um garoto que estava hospitalizado num importante hospital do Centro da cidade de Goiânia para ser submetido a uma cirurgia, mas quando os médicos descobriram a mãe era pobre, desprovida de recursos para arcar com os altos custos do procedimento, como já haviam iniciado, simplesmente fecharam sem concluir o trabalho. Waldire fez a reportagem contando o fato e levou para o jornal, sendo publicada com manchete na primeira página. Aconteceu que o presidente da Republica da época, marechal Costa e Silva, tomou conhecimento do fato em Brasília e telefonou imediatamente para o então governador de Goiás, Otávio Lage, inquirindo dele das providências que o governo de Goiás estaria tomando a respeito do caso, ouvindo como resposta que iriam ser tomadas providências imediatas. Entretanto, decorrida uma semana, um assessor da Presidência da República telefonou novamente para o governo, perguntando se já havia sido resolvido o problema da criança e só então as autoridades saíram rapidamente à procura da mãe da criança, providenciaram a cirurgia, que foi realizada com sucesso. Correu a notícia que Costa e Silva deu uma tremenda bronca diante da demora na solução do urgente problema, dizendo que se o governo goiano não resolvesse, ele iria pagar para a realização da cirurgia.

Passados cerca de seis meses a mãe da criança chegou na redação do jornal para agradecer com muita emoção a iniciativa que salvou a vida do seu pequeno filho. Waldire considera essa reportagem que ele fez, por volta de 1968, o acontecimento número um da sua vida como jornalista, o fato que mais o marcou na carreira jornalística.

Quando fazia o curso de Admissão ao Ginásio, já havia lido o Manifesto Comunista, de Marx, era diferente de todos os seus irmãos, sendo o único que gostava de ler na família de sua mãe, enquanto os outros se preocupavam só em ganhar dinheiro, Waldire tinha também a preocupação de estudar, de saber das coisas, ou seja, foi um filósofo precoce, de maneira que quando fazia a terceira serie do ginásio ele já era redator de jornais, exatamente porque lia muito e passou a conviver com Brasigóis Felício, que também já escrevia no jornal Cinco de Março, e passaram a ser amigos íntimos e essa amizade permanece até os dias de hoje. A mãe do poeta era viúva, ele tinha um irmão, eles moravam na Vila Santa Helena e Waldire frequentemente pernoitava lá, tal era o grau de amizade e fraternidade que o unia a toda a família Felício.

Desde cedo começou a escrever bem, os professores liam suas redações na sala de aula, e sempre tirava nota dez nas suas composições, tendo assim descoberto sua vocação para as letras e começou a escrever poesia desde seu tempo de ginasiano, ainda na adolescência, apenas para mostrar para os colegas, mas posteriormente, quando já estava fazendo o Curso Normal, escrevia versos, saíram algumas no jornal O Popular e na Folha de Goiás, mas nunca publicou livros e o seu maior incentivador, que fez um grande esforço foi Luiz de Queiroz, que levou seus poemas e levou para a Editora Kelps e fez com que publicasse seu primeiro livro, em 1996, com o título de Chão Encantado de nossos Avós. Em seguida Waldire lançou Poema da Vida Terrestral, depois Espelho do Amanhecer – em português e espanhol – porque nas suas andanças pelo planeta aprendeu a ‘arranhar mais alguns idiomas’.

Mas antes de publicar esses três livros, seus poemas apareceram em três antologias no Rio de Janeiro, em duas em que participou em Goiânia em duas edições do poeta Gabriel Nascente – A Voz dos Inéditos (1979) e Cinqüenta Anos de Poesia (2006) –

Segundo Waldire, “dizem que a mulher tem a menopausa e o homem tem a andropausa”, daí ele achar que estava entrando nessa fase quando decidiu empreender viagens para o exterior. Ele diz que estava passando por muita angústia, achava que no Brasil estava tudo errado, sentindo-se muito revoltado com o caos político, com a falta de patriotismo dos brasileiros, aquilo o revoltava muito, ele sempre foi contestador, apoiava nas ruas a posse do presidente João Gouart, e entende que foi aí que o Brasil perdeu o trem da história, porque ele pretendia realizar as reformas de que o Brasil necessitava, mas como os militares não permitiram com o golpe de 64, o Brasil perdeu o trem da história, porque iam ser feitas todas as reformas e hoje o Brasil não estaria no que está hoje, talvez estivesse competindo com os Estados Unidos, se tivessem deixado João Goulart terminar seu governo.

Como já havia advogado durante 16 anos, saiu do país e ficou durante seis anos ininterruptos no exterior, quando retornou, fê-lo para ficar. Ele considera que foram muito positivas suas andanças pelos diversos países, tendo visto como é feita a escravidão dos países mais pobres, presenciou como é que a coisa funciona, viu com clareza como os americanos trabalham para dominar o mundo. Ele viu que o americano é um povo muito egoísta, que são capazes de matar a própria mãe por dinheiro; na França ele sentiu o quanto o francês é racista; achou que o inglês é mais cordial, não sentiu em momento algum o racismo na Inglaterra; diz que sentiu a presença do racismo também em Portugal. Mas o que o marcou mais mesmo, que ele enfatiza é o fato de que ele considera os americanos um povo ordinário, que só pensa no dinheiro; no Canadá ele sentiu a presença do racismo no dia em que teve problema com a imigração, quando foi xingado com palavras de baixo calão e muito humilhado, mas, mas declara ter gostado muito do Canadá, também da cidade americana de Nova Iorque, que chegou a amar, mas não tem nada mais a fazer lá, uma vez que o que ele queria saber, já sabe.

Para sobreviver nos países em que esteve, Waldire lavava pratos, entregava comida, trabalhou durante quase dois anos numa boate, que foi seu melhor serviço. Segundo ele, arrumar namorada não é fácil, porque o brasileiro é muito discriminado, visto como pessoa sem formação, sem educação. Como seu visto venceu, teve problemas com a imigração no Canadá e chegou a ser preso nos Estado Unidos, ficando durante dois dias num cômodo, sentado numa cadeira, ele e uma amiga índia da tribo dos carajás chamada Dakterê, a quem conheceu quando era delegado de Polícia no Tocantins, e uma dia essa mulher o procurou em Goiânia e passaram a viver juntos, ficando quase quatro anos com uma vida em comum.

Durante um período Waldire exerceu o cargo de delegado de Policia no Tocantins, mas ele lembra que a necessidade de algemar as pessoas o incomodava muito, porque sempre foi de princípios humanistas; também a corrupção na Polícia era muito grande e ele vendo os colegas nessa prática para ele abominável, embora fosse uma minoria, mas havia casos em que prendiam traficantes com, por exemplo 10 kg de cocaína, ficavam com a ‘mercadoria’, soltavam os presos e vendiam o produto para outras pessoas. Waldire foi ficando descontente com isso e chegou um dia que em que foi ao cienema assistir um filme pornográfico e constatou que havia muitos adolescentes assistindo ele fechou o cinema, prendeu os todo mundo e havia vários filhos de políticos e então recebeu ordem do secretário de Segurança Pública, que não era para processar ninguém, mas mesmo assim abriu o inquérito, não prendeu ninguém, mas foi liberando à medica que ouvia os indiciados. Teve um bate boca com o secretário, fato que foi a gota d’água e ele requereu seu afastamento da Polícia Civil, não foi aceito, mas ele abandonou o cargo, retornou para Goiás e nunca mais voltou. Todos esses acontecimentos deram-se em Miracema do Tocantins, quando era capital provisória do Tocantins. Outro fato que o contrariou muito foi o fato de que a Polícia Militar do Tocantins tinha uma rixa com a Polícia Civil e ele tentava desfazer aquele clima, tinha um bom relacionamento com os oficiais, mas um dia um dia um deles chegou na Delegacia dando-lhe ordens numa coisa que não era certa, e Waldire disse a ele que ele é quem dava as ordens. Cerca de seis meses depois disso, ele foi parado numa blitz e o sargento que estava acompanhando o mesmo oficial, com dois soldados, apontaram-lhe armas e quiseram dar busca e surgiu uma acalorada discussão. Ele levou o fato ao conhecimento dos oficiais superiores com quem tinha amizade, mas ficou por isso mesmo e isso também foi um dos motivos que o fizeram deixar o cargo de delegado, ou seja, a corrupção e essas que havia entre a Policia militar e a policia civil.

O escritor Waldire esta escrevendo mais um livro, de conteúdo poético suave, que não critica ninguém, é profundo, fala do amor, da beleza da vida, da filosofia, que só fala do lado bom da vida.

A corrente doutrinaria jurídica que o Dr. Waldire mais admira é a do Dr. Washington de Barros Monteiro, já falelcido, de quem possui as obras completas em sua estante de literatura jurídica. Segundo ele, esse autor deixou uma obra de fácil compreensão até por leigos e tem uma profundidade, vê o lado social sob a ótica do Direito Cível.

Waldire tem um filho cujo nome é Gabriel.

Hoje tem uma namorada de quem ele gosta muito, chamada Lucilene Passos Cunha, com irá casar-se no próximo dia 15 de março de 2009 em São Luiz de Montes Belos.

Sobre a genealogia dos Laureano, surgiu a idéia de uns parentes de Waldire residentes em Trindade, que tomaram a iniciativa de fazer uma reunião e na primeira reuniram-se três, hoje estão comparecendo mais de 150, sendo a reunião de três em três meses. Foi contratado um genealogista que pesquisou e descobriu que a origem do clã é de uma cidade da Itália de nome Lauria, onde foi construído um mosteiro, em torno do qual foram sendo construídas algumas casas e com o tempo surgiu lentamente um povoado; e, como naquela época – as cidades tinham de se proteger, foi criado um escudo com rajas de prata, como defesa contra ataques de possíveis inimigos. De maneira que o nome Laureano deriva de Lauria, cidade da Itália meridional. A reunião trimestral é muito bonita, com muita fraternidade e cordialidade, encontram-se parentes que há muito não se veem. No final de cada acontecimento fica nomeado um parente para organizar a próxima, e sempre acontece em cidades diferentes.

Um comentário:

Unknown disse...

Eu sou cezar laureano, moro em trindade e sou o responsável pelas reuniões da familia laureano.
Gostei da historia de vida do Waldire, conhecia apenas uma pequena parte...agora conheço muito mais sobre sua vida.
Ele é o nosso poeta.
um abraço