Emanuel Cancella, diretor do Sindipetro-RJ
Obama vem ao Brasil reforçar os interesses dos EUA no petróleo brasileiro. A vontade do governo brasileiro e da Petrobrás é transformar o país num grande exportador de petróleo, em detrimento de tratarmos esse bem como estratégico e produzi-lo na medida das necessidades internas
Essa é a frase famosa dita pelo então embaixador brasileiro nos EUA, Juracy Magalhães. Isso foi em 1964 às vésperas do golpe militar que resultou na ditadura militar. Hoje é sabido que os nossos anos de chumbo foram orquestrados pelo governo norte-americano, aliado dos militares brasileiros golpistas.
O presidente norte-americano Barack Obama visitará o Brasil em março com o mesmo pensamento de 1964, só que agora é uma questão de sobrevivência, pois é sabido que os EUA só têm petróleo para três anos. As convulsões sociais nos países africanos e no Oriente Médio complicam ainda mais a geopolítica do petróleo. Esses países são possuidores de grandes reservas de petróleo, bem como são os principais exportadores da matéria prima para o mundo, em particular para os EUA.
Por conta das turbulências no mundo muçulmano, o petróleo passou a casa dos cem dólares. Exportar petróleo desses países cada vez fica mais complicado, a exemplo do Iraque – país “dominado” pelos EUA e aliados. E aí entra em cena o Brasil – o gigante adormecido, deitado eternamente em berço esplêndido e com reservas gigantes de petróleo descobertas do Pré-sal.
No mundo inteiro, a geopolítica do petróleo é resolvida através de guerras, derrubada de governantes, ameaças de guerras: vejam o caso do Irã. No Brasil, Obama só precisa que aconteçam os leilões de petróleo.
Na política de petróleo, Lula avançou em relação a Fernando Henrique: deixamos de entregar todo nosso petróleo como propunha FHC, passando, com Lula, a entregar 70%. No marco regulatório de Lula, 30% de todos os blocos do Pré-sal são da Petrobrás e os restantes [70%] serão partilhados entre empresas privadas nacionais e multinacionais. Vence o leilão aquele consórcio que oferecer mais vantagens à União.
É isso que Obama vem reforçar: a vontade do governo e da Petrobrás de transformar o Brasil num grande exportador de petróleo. Ao invés de tratarmos esse petróleo como bem estratégico e produzir na medida das necessidades internas, já que somos autossuficientes na produção de petróleo, vamos virar um grande exportador para atender aos EUA.
E para desespero dos ambientalistas, já que o Brasil vai perder a oportunidade de diminuir a participação do hidrocarboneto na nossa matriz enérgica e de investir o próprio dinheiro do petróleo em geração de energias mais limpas e com isso contribuir com o política ambiental. Pela vontade do governo brasileiro, de Obama e da direção da Petrobrás vamos continuar a ser fornecedores de matéria prima para o mundo. E deixar a possibilidade de investir o dinheiro desse petróleo para erradicar as nossas mazelas sociais.
Imaginar que após a vitoriosa luta da campanha “O Petróleo é Nosso!”, onde brasileiros foram perseguidos, presos, mortos, agora vamos entregar (nos leilões) de mão beijada nosso petróleo. Quando o petróleo era um sonho, o povo foi às ruas, lutou e conquistou a Petrobrás e o Monopólio Estatal do Petróleo. Agora que o petróleo é uma realidade, nós vamos exportá-lo. É sair do sonho e entrar no pesadelo!
Data: 22/02/2011 Fonte: Agência Petroleira de Notícias Autor: Emanuel Cancella
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