Residiu em Anápolis durante 25 anos, cidade que ele considera como sua terra, porque chegou a ela aos sete anos de idade, portanto passando a infância, a juventude e parte da vida adulta respirando o ar saudável dessa terra: Euclides Leão Cunha, nasceu em Rio Verde-GO em 1932, filho de Jandyra Leão Cunha e de Fernando Ferreira da Cunha.
Seu pai, mais conhecido como Fernando Cunha, era natural de Santa Maria, Município de Uberlândia-MG, e ficou órfão de pai e mãe aos dez anos de idade. Os avós paternos eram Bonifácio Ferreira da Cunha e Ana Rita Cunha. O primeiro irmão de seu pai, – Carlos Cunha, ou Carrinho – que já estava morando em Rio Verde, buscou os manos menores para essa cidade goiana e assim ele, aos dez anos, passou a trabalhar numa loja. Era analfabeto e aprendeu a ler no jornal Lavoura & Comércio, de Uberaba-MG, com a ajuda de um colega de trabalho. A loja era de propriedade de um tio daquele que viria a ser governador de Goiás, Jerônimo Coimbra Bueno, chamado Samita. Fernando Cunha aprendeu a ler e se desenvolveu, afeiçoou-se à boa leitura, alcançando um nível cultural invejável. Trabalhou durante muito tempo na loja e posteriormente, quando Pedro Ludovico assumiu a interventoria federal de Goiás em 1930, foi nomeado coletor de Rio Verde, sendo transferido para Itumbiara – que na época era denominada Santa Rita do Paranaíba. Assim, Euclides, nascido em Rio Verde, mudou-se para Itumbiara com um ano de idade e aos sete anos transferiu-se para Anápolis, em razão da promoção de seu pai para essa cidade, vindo a passar boa parte da vida aí, principalmente os anos dourados da juventude. Em Anápolis nasceram seus primeiros filhos.
Jandyra Leão Cunha, sua progenitora, nasceu em Rio Verde, mas teve esmerada formação escolar em Uberaba, porque ela era originária dessa importante cidade do Triângulo Mineiro, da tradicional família Leão. Faleceu com 74 anos de idade em Anápolis.
A mãe de Euclides teve 12 filhos, mas alguns faleceram ainda crianças, sobrevivendo:
Glicério, que fez Odontologia enfrentando imensuráveis dificuldades, na distante cidade paulista de Ribeirão Preto, porque a família morava em Itumbiara, e sua mãe fabricava sabão artesanalmente e vendia para aplicar o produto em benefício dos estudos do filho. Mas ele conseguiu formar-se, voltou e se casou com uma jovem de Itumbiara chamada Esterlina Marquez, passou a exercer a profissão para a qual se formara com brilhantismo, adquiriu uma pequena propriedade rural, mas depois se transferiu junto com o pai para Anápolis e oportunamente foi nomeado prefeito de Goiatuba, onde permaneceu durante cerca de quatro anos, falecendo em 1942. A viúva alçou-se a um emprego público e conseguiu custear os estudos dos filhos, Estércio Marquez Cunha – compositor e professor de música – e Amaury, engenheiro, que tinha vinte dias de vida quando o pai faleceu. O terceiro filho de Fernando e Jandyra Cunha foi uma moça, que faleceu ainda jovem, em seguida Adherbal (Babá) – já falecido; João Cunha, que foi vice-prefeito de Anápolis, onde mora e já passou por sérios problemas de saúde, mas tapeou a morte, tendo sofrido enfarte, câncer de próstata, câncer de garganta, mas está bem de saúde e bem humorado, sendo considerado na família o “campeão das rebordosas”; Carlito, o caçula, faleceu em de 2004 vítima de enfarte; Fernando Cunha Júnior, dono de uma notável biografia de homem público, tendo sido deputado federal por vários mandatos, num total de 20 anos de Câmara Federal, com uma folha enorme e rica de serviços prestados à Nação.
Primeiras letras
Euclides Leão Cunha nasceu em Rio Verde em 1932, e com um ano de idade seus pais mudaram-se para Santa Rita do Paranaíba – que mais tarde teve o nome alterado para Itumbiara – onde passou a residir numa casa localizada ao lado da Recebedoria do Estado, ao pé da ponte sobre o rio Paranaíba. Foi aí, naturalmente, nesse ambiente bucólico, que o garoto despertou para a vida. Aos sete anos mudou-se novamente, desta vez para Anápolis, onde seu pai foi exercer o cargo de coletor. Em Anápolis Euclides freqüentou a primeira escola; sua primeira professora chamava-se Quita, de família grada, mãe de Aldo Arantes, que depois se tornou figura conhecida nacionalmente por sua intrépida liderança estudantil, na época do ápice do regime militar. Fez o curso Fundamental, depois cursou Contabilidade e exerceu a profissão de contador durante algum tempo, transferindo-se para São Paulo, aonde foi com a intenção de cursar Ciências Econômicas. Foi um passo inútil, porquanto a Escola de Comércio de Anápolis, onde ele cursara o 2.º Grau, estava em situação irregular, não podendo expedir o diploma. Então Euclides desistiu de continuar na Paulicéia e retornou para Anápolis. Quando a escola finalmente foi autorizada a expedir o diploma – dois anos depois – tentou ingressar no curso de Direito, mas houve uma ilegalidade, uma exigência absurda da sua Certidão de Nascimento, o que o obrigou a desistir, só voltando a insistir na tentativa muitos anos depois, já adulto, mas dessa vez com sucesso.
Na infância auxiliava seu pai na rude faina de uma chácara, fazendo adobe para construir casa, construindo galinheiro, plantando hortaliça, enfim, fazendo de tudo na pequena propriedade. Pôs-se a trabalhar como contador, logo após concluir o curso, e logo assumiu a responsabilidade pelos serviços contábeis de uma empresa agrícola localizada em Ceres, onde conheceu uma formosa moça maranhense de Riachão, enamorando-se e se casando. A jovem era Wilna de Jesus Coelho, sua consorte até hoje, tendo cumprido sem dificuldade a promessa de união perpétua, “até que a morte os separe”, feita no decorrer da cerimônia. Ela é professora, exemplo de esposa e mãe, ajudou Euclides a encaminhar os filhos na vida com muita eficiência, autoridade e carinho.
Escassez em tempo de guerra
Na época da Segunda Guerra Mundial houve escassez de muitos produtos na mesa dos brasileiros, principalmente das cidades. Euclides Cunha era criança, mas já um pouco crescido e, como a família residia em Anápolis, sentiu o drama diretamente. Sobrou para a meninada, que tinha de sair para a zona rural em busca de produtos. Faltou gasolina, tiveram de criar uma modalidade de combustível para movimentar os veículos auto-motores – o gasogênio – movido a carvão. Um produto que faltou – que era extremamente racionado – foi o açúcar, então todos eram obrigados a se utilizar do açúcar mascavo, fabricado e comercializado nos engenhos-de-açúcar artesanais nas fazendas e sítios. Esse produto era chamado popularmente em Minas Gerais e em Goiás de açúcar-de-forma; Euclides e outros garotos saíam para as fazendas, às vezes percorrendo longas distâncias a pé, em busca do açúcar. Se por um lado era sacrifício, se causava preocupação aos pais essa jornada de crianças, devido à necessidade, por outro lado, para a garotada isso era motivo de divertimento, trabalho que eles transformavam em jornadas aprazíveis e ficaram inesquecíveis.
Primeiros ofícios
Euclides casou-se quando trabalhava na empresa agrícola Companhia Cafeeira Goiana como contador, na então nascente cidade de Ceres, onde se dava muito bem com os colegas e superiores, principalmente com um polonês chamado Adan Doria, que era o diretor. Mas numa certa altura sua esposa começou a ter problemas de saúde, com crises de asma todas as vezes que chegava na fazenda e então era preciso transportá-la com urgência para Anápolis em busca de tratamento. Melhorava, voltava para a fazenda e as crises de asma ressurgiam. Por essas crises cíclicas de saúde da esposa, Euclides tomou a iniciativa de deixar o trabalho em Ceres e retornou para Anápolis, indo trabalhar com o empresário e líder político Jonas Duarte, assumindo o cargo de diretor comercial da gráfica e, concomitantemente, do jornal editado pelo destacado prócer anapolino, que já havia sido até governador de Goiás. O jornal era dirigido pelo filho do proprietário, o jovem Haroldo Duarte, que mais tarde também teria destaque na vida pública, como deputado estadual – o mais jovem eleito até então – e deputado federal com atuação brilhante. O jornal fez história na cidade e no Estado, era o arauto das idéias políticas pessedistas – relativas ao PSD (Partido Social Democrático) – corrente política majoritária na época e tinha o apropriado título de O Anápolis, que era semanário e nessa época passou a ser diário, melhorando sua performance como importante voz da cidade, como amplificador de idéias – novas ideologias efervesciam então – e servindo de esteio para a divulgação do nome do então jovem candidato a deputado estadual Haroldo Duarte.
Em 1960 Jonas Duarte foi eleito prefeito de Anápolis e Euclides passou a trabalhar na Prefeitura. Mas em 1962 o então governador Mauro Borges criou um fato inusitado, que foi a modalidade de concurso público para ingresso de servidores nos quadros de pessoal do Estado e abriu concurso para o preenchimento de vagas no Fisco, tendo Euclides participado e sido aprovado em colocação privilegiada.
Quando assumiu suas funções no Fisco, Euclides residia em Anápolis, e tendo sido lotado em Pires do Rio, viajava para aquela cidade todas as segundas-feiras de madrugada e retornava para sua residência nas sextas-feiras à noite. Em Pires do Rio ele tomou a iniciativa de fazer um levantamento no Banco do Brasil sobre os financiamentos que havia para compra de gado – porque ele sabia da existência de uma grande quantidade de financiamento com essa finalidade. Ele estava ciente, entretanto, que os tomadores do dinheiro desviavam a finalidade, e não compravam gado coisa nenhuma, e era preciso haver a comprovação de compra e então ele fez o levantamento, as autuações e notificou todo mundo para recolher o imposto, eles não recolheram e então ele lavrou os autos de infração, fazendo o relatório desse trabalho para a Secretaria da Fazenda, o que impressionou de tal forma o diretor da Receita que, em conseqüência, baixou portaria destinada a todas as regiões fiscais, com a orientação de que fosse realizado levantamento idêntico. De maneira que a iniciativa de Euclides Cunha serviu de exemplo para os demais fiscais, coisa que ficou bem marcada na época.
Entre os autuados pela irregularidade, havia muitos políticos importantes da cidade, citando-se o então prefeito, mas este pagou a multa sem reclamar.
Como efeito daquela iniciativa, o novo herói do fisco, indo rotineiramente à Secretaria da Fazenda na Capital do Estado, tomou conhecimento de que estava sendo transferido para Jataí na qualidade de delegado fiscal, promoção baseada absolutamente na competência, resultado de uma iniciativa criadora e fruto da coragem pessoal que tivera ao tomar sozinho a decisão de aplicar multas aos poderosos da época, habituados à locupletação impune, às custas de artimanhas capciosas, em prejuízo do erário e do aparato econômico-financeiro público.
Euclides ocupou o cargo de delegado fiscal de Jataí durante alguns anos, missão extremamente árdua, uma vez que ele era fiscal neófito, sendo rapidamente guindado a uma posição profissional de relevo e de enorme responsabilidade, levando-se em conta também que a Delegacia Fiscal de Jataí abrangia uma região muito extensa, que exigia muito de seus gestores. Mas desincumbiu-se com sabedoria e competência diante dos obstáculos, tornando-se um nome de muito respeito junto aos quadros do Fisco, bem como junto ao Governo do Estado, pela seriedade e eficácia na sua atuação e na pertinaz probidade no exercício de suas funções.
A região fiscal com sede em Jataí abrangia uma área muito vasta, com dez municípios na sua composição, estes também de grande extensão territorial, e muitos deles localizados nas divisas de Goiás com Mato Grosso (700 km) e Minas Gerais. Eram inumeráveis os problemas e dificuldades, mas o jovem e competente fiscal permaneceu à frente do posto durante quatro anos. Seus subordinados eram insuficientes para o cumprimento da missão em tão grande território, tendo o próprio responsável a incumbência de percorrer mensalmente as coletorias na coleta dos balancetes e até mesmo do dinheiro arrecadado em impostos – em espécie. Para disfarçar o volume de dinheiro que transportava sozinho em um jipe, o esperto fiscal levava consigo nas viagens um saco de aniagem completamente sujo de fezes de porco ou de frango, o qual ficava amarrado no piso da viatura e uma pasta grande de couro, que não abandonava de maneira nenhuma, em nenhum momento, sendo que ali levava papéis inúteis, como jornais velhos. Os balancetes eram empacotados em cada Coletoria por onde passava, e colocava dentro do saco juntamente com o dinheiro arrecadado, que, naturalmente, era em volume enorme, capaz de chamar a atenção de qualquer meliante. Ele pegava o dinheiro disfarçadamente, olhava em volta para cuidar que ninguém estava observando, atirava as inúmeras notas dentro do saco e seguia viagem com aquela carga perigosa escondida no fundo do jipe. Mas nunca houve a mínima tentativa de roubo, às vezes ele dava carona para pessoas desconhecidas, mas jamais alguém desconfiou que sob os próprios pés havia uma verdadeira fortuna escondida, disfarçada daquele saco sujo de excrementos de animais. Até aquela época não existia tanta ação de assaltantes como vem acontecendo nas últimas décadas, mas não se podia descartar de todo a possibilidade. Uma vez chegado à cidade de Jataí, depositava o dinheiro no banco e viajava para Goiânia, a fim de realizar a devida prestação de contas junto à Secretaria da Fazenda.
Entre os servidores do Fisco Estadual à disposição do delegado regional, havia um que era considerado excêntrico, dono de atitudes estranhas, que era chamado de doido pelos conhecidos. Um dia esse elemento levara a viatura – um jipe ou uma rural Willys para ser lavada e quando retornava para o Posto Fiscal recebeu ordem de parar de um policial guarda de trânsito e ele não obedeceu, seguindo normalmente, ao que o guarda atirou nele pelas costas. O guarda também era um desequilibrado, acertou dois tiros num pneu do veículo e um no ombro do condutor, o qual parou na porta do Posto Fiscal, que funcionava na mesma casa onde Euclides morava, apavorado, em altos brados e gestos desesperados, numa agitação sem tamanho. Euclides simplesmente saiu correndo, pulou dentro do veículo e foi em disparada rumo ao hospital, tendo o pneu furado pelas balas terminado de se esvaziar justamente na porta, tendo o rapaz sido atendido prontamente pela equipe de profissionais da saúde. Naturalmente, não foi um ferimento grave e o caso foi resolvido com facilidade ali mesmo, sem que houvesse a necessidade de cirurgia de maior porte.
Quanto ao guarda desequilibrado, despreparado, Euclides comunicou o fato ao Governo, e ele foi transferido para Goiânia, depois reincidiu no mesmo ato criminoso de atirar em pessoas a esmo, até que foi devidamente punido.
Família
A primeira filha do casal Euclides/Wilna Cunha é Marília, nascida em Anápolis. Diplomada farmacêutica, fez também outros cursos até patrocinados pela ONU, esteve na Bolívia, passou seis meses em Angola prestando serviços à Unicef, casou-se com um baiano e tem três filhas: Mayra, que está cursando engenharia na UnB; Isadora, também na UnB, onde cursa Ciências Sociais e tem a intenção de se dedicar ao serviço diplomático; e a caçula, Júlia, que está na fase de preparativo para o vestibular na UnB.
O segundo filho é Leandro, natural de Anápolis, que entrou para o Fisco estadual por concurso em 1984, leciona também e ainda faz cinema, mais como hobby, matéria em que é bastante versado, dando aulas de cinema na UCG. É casado com Marla Cardoso e têm duas filhas: Mahalia, que está cursando Engenharia Florestal na UnB e a pequena Beatriz, fazendo o curso médio.
A terceira filha é Jacqueline, nascida em Jataí. É pedagoga, casada com um funcionário do Senai, José Mello, ocupa atualmente cargo de relevância na Secretaria Estadual de Educação, desde o primeiro mandato do governador Marconi Perillo.
O filho caçula é Leonardo, natural de Goiânia, advogado e professor de Direito na Universidade Salgado de Oliveira (Universo), casado com Ana Cláudia, assistente social formada pela UFG. O casal tem uma filha pequena, Maria Luíza. Leonardo escreve artigos de cunho jurídico para órgãos de imprensa de Goiás.
Transferência para Goiânia
Com o advento do Golpe Militar, Euclides foi transferido para Itumbiara, trabalhando na região sul, incluindo Morrinhos e outras cidades importantes. Em 1966 começou a fazer o curso de Direito na UFG e por isso pediu transferência para a Capital do Estado. Em seguida adveio a Reforma Tributária e foi encarregado de dar treinamento para o pessoal na região e quando chegou o momento da implantação da Reforma Tributária, posicionou-se pessoalmente no Posto Fiscal, para resolver os problemas que iam surgindo com a mudança, a implantação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias, já que até então vigorava o Imposto sobre Vendas e Consignações e a inovação causou dúvidas e reclamações, sendo necessária a atuação de profissionais detentores de conhecimento e competência para lidar com a questão a contento.
Em seguida fez o curso da Esaf - Escola Superior de Administração Tributária do Ministério da Fazenda, na primeira turma. Foram seis meses residindo na escola em Brasília e o curso proporcionou novas oportunidades para Euclides, em razão do qual acabou recebendo convite para prestar serviços na Secretaria de Economia e Finanças do Ministério da Fazenda, a qual patrocinava o curso. O convite foi para a prestação de serviços durante seis meses, mas Euclides nunca mais voltou a trabalhar em Goiás, porque o convite foi prorrogado para mais um ano, mais outro e assim sucessivamente, tendo ele passado dez anos lá, até atingir o tempo de serviço para requerer aposentadoria, o que fez em 1982 e ainda permaneceu no mesmo lugar durante mais algum tempo como comissionado. Nessa época teve a oportunidade de conhecer boa parte do Brasil, realizando auditorias nas empresas exportadoras das regiões Norte e Nordeste.
Permaneceu no cargo até que um seu amigo, o deputado Derval de Paiva, foi nomeado para a Diretoria Comercial da CFP – Companhia de Financiamento da Produção – do Ministério da Agricultura – recebendo dele o convite apara ir auxiliá-lo, porque necessitava de uma pessoa com o perfil que ele apresentava: confiança e competência.
Na CFP Euclides assumiu a Superintendência de Transporte e Armazenamento, responsável por milhões de toneladas de produtos armazenados, e ele passou cerca de três anos extremamente atarefado para resolver os problemas, no sentido de não deixar que se perdesse produto algum estocado a céu aberto. Para se desincumbir dessas tarefas, valeu-lhe a experiência adquirida como contador, muitos anos antes, em Anápolis. Permaneceu nesse posto como fiel escudeiro do deputado Derval de Paiva até a saída deste, quando deixou o cargo e retornou para Goiânia.
Uma vez novamente na Capital do Estado, mesmo aposentado, Euclides não cessou de exercer atividades profissionais e abriu, pela primeira vez, um escritório de Advocacia especializado em legislação tributária, porque havia uma quantidade enorme de autos de infração em andamento contra empresas, da parte da CFP e, como ele tinha conhecimento de causa, foi credenciado e fez sociedade com um advogado que hoje é juiz de direito no Distrito Federal, Dr. Olair Sampaio. Passaram a trabalhar na questão e dentro de pouco tempo desenredaram todos os problemas pendentes dos autos de infração e com isso Euclides ganhou uma boa soma de dinheiro com Advocacia, tendo adquirido uma aprazível chácara no Município de Bela Vista de Goiás, coisa que teria sido impossível só com os salários de funcionário público estadual.
Episódio pitoresco
Havia um comerciante turco em Pires do Rio e numa fiscalização rotineira às empresas comerciais da cidade, Euclides adentrou ao estabelecimento do respeitável libanês (ou sírio) e estava realizando seu trabalho, com o proprietário a atendê-lo polidamente. Não havia novidade a ser notada ou anotada, tudo transcorria normalmente, quando adentrou abruptamente uma filha do turco, também comerciante, a qual não conhecia o fiscal que estava no local, atento. A moça chegou para comprar do pai, apressada e falando alto, um engradado de aguardente de cana. O pai ficou muito “apertado”, porque o fiscal estava presente e a pinga que ele vendia era produto clandestino, fabricado artesanalmente nas fazendas, a chamada pinga de engenho, ou pinga de alambique, naturalmente sem nota fiscal. Daí que o comerciante falou para a filha que não vendia pinga, mas ela insistiu, aumentando o tom de voz, exigindo a pinga, dizendo que pagava, que não queria de graça nem fiado e o homem também esbravejando que não tinha pinga nenhuma, de maneira que a cena se tornara tragicômica, em conseqüência do “apuro” do turco na situação, pai ralhando com a filha, filha ralhando com o pai, este gritando que ela fosse embora, e o fiscal Euclides se contendo para não estourar o pescoço de tanta vontade de rir, mas sem poder. Depois de muita altercação, de muito barulho que chamou a atenção dos vizinhos, a turquinha se foi furiosa. Euclides descobriu assim que o comerciante, apesar das gentilezas, dos salamaleques com que o tratava, era um belo sonegador. Mas, mesmo assim, sabendo tratar-se de coisa de pouca monta, preferiu ignorar o fato e não exigiu para ver o “estoque” do apavorado comerciante árabe.
Vida atual
Euclides Leão Cunha deixou de atuar como advogado, vivendo apenas com sua aposentadoria, já que vem enfrentando problemas de saúde, mas exerce a função de colaborador do Centro Espírita Irmã Dulce, o qual desenvolve um trabalho volumoso e importante num bairro pobre de Aparecida de Goiânia – Independência das Mansões – um loteamento muito grande cujos lotes foram distribuídos gratuitamente pelo Governo de Goiás há alguns anos, os beneficiados vieram de toda parte e fizeram seus barracos de qualquer maneira, já que quase ninguém tinha emprego. Quando começou a iniciativa, havia muita fome entre a população, todo domingo havia gente desmaiando na fila, por causa da desnutrição. Começou com uma sopa, que era feita no próprio Centro Espírita, localizado no bairro Faiçalville, em Goiânia e transportado para o local. Mas em outra etapa passou-se ao preparo no próprio bairro com boa estrutura montada num amplo espaço, atendendo crianças e adultos, em torno de 600 pessoas por domingo. Eles recebem vitamina de frutas, pão, bolachas e outros alimentos. Está aumentando a quantidade de colaboradores, tanto dos que fazem doações de gêneros quanto dos que se dispõem ao trabalho pessoal voluntário. Por isso a distribuição ficou mais fácil. São preparados entre 500 e 600 litros de sopa, que é distribuída aos domingos de manhã. Os responsáveis pelo caritativo trabalho notaram desde o começo que muitas pessoas ficavam a semana inteira sem comer e aos domingos iam para a fila pegar a sopa e desmaiavam de fome. Mas isso não acontece mais, porque todos recebem uma vasilha cheia de sopa e muitos levam para casa também uma cesta de alimentos, as crianças ganham bolachas e pães. Muitas empresas doam regularmente cestas básicas de alimentos, que são distribuídas e assim as famílias cadastradas recebem normalmente, o que dá para a sua alimentação durante a semana. É uma ocupação de Euclides e seus irmãos de Centro Espírita que ajuda, pelo menos, a reduzir a fome daquele povo.
O presidente do Centro Espírita Irmã Dulce e principal responsável pelo trabalho da sopa é o abnegado Sílvio Miró de Carvalho Neto. Ele é aposentado da Saneago, está há anos nessa luta desesperada em prol dos mais necessitados, e já conseguiu pôr em funcionamento uma creche com capacidade para abrigar 80 crianças filhas de presidiários, prostitutas e outros excluídos sociais; essa obra localiza-se junto ao Centro, no Faiçalville. E ao lado da Creche, uma escola profissionalizante. No futuro o aparato creche/escola profissionalizante terá condições de atender até 300 crianças. A vida de Sílvio é dedicada a essas obras. Tendo todos esses empreendimentos de cunho social, filantrópico e educativo prosperado, inicialmente com a enorme dedicação e esforço pessoal de Sílvio e mais uma meia dúzia de voluntários do Centro Espírita Irmã Dulce – entre os quais Euclides Cunha – a obra conquistou credibilidade junto à sociedade e atualmente há uma grande afluência de voluntários para todas as atividades, que exigem muito desprendimento e sacrifício pessoal.
Euclides possui uma aprazível chácara localizada no Município de Bela Vista de Goiás, a poucos quilômetros de Goiânia, com muita água, inclusive com uma nascente límpida e cristalina. São sete alqueires que, além de propiciar um lazer sadio para Euclides, sua caríssima Wilna – filhos e filhas com os respectivos cônjuges e mais sete netas, e o sobrinho Elvis – familiares e amigos, constituem o ganha-pão de várias pessoas que prestam serviços à pequena propriedade. Entre esses se destaca uma figura que já faz parte da paisagem física e humana local, tal é sua importância: a boa Neide, que a todos conquista com seu valor humano, sua bondade para com os circunstantes e o desejo de doar os conhecimentos fitoterápicos, herdados dos seus antepassados indígenas.
Instado a fazê-lo, Euclides Leão Cunha, com toda a sua longa vivência e experiência com a vida, com a convivência com muita gente – pessoa que viveu a maior parte da existência (toda sua vida profissional) em um século, dá um sábio conselho para a juventude de outro século:
“Procuro sempre seguir aquilo que herdei do meu pai e transmiti para meus filhos, transmito para minhas netas e para todas as pessoas com quem convivo: procuro levar a vida com honestidade, ser solidário com as pessoas necessitadas; deixar de lado o egoísmo e a busca desenfreada de riquezas, acumulação de fortuna”.
Depoimento prestado para Hélio Nascente, em 12.11.2007.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário