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sexta-feira, 16 de abril de 2010

VERSOS DE LAMPEÃO


Virgulino Ferreira da Silva, o Lampeão

O cangceiro Lampeão nasceu em 12 de fevereiro de 1900, na fazenda Ingazeira, na Serra Vermelha, do município de Vila Bela. Era filho de José Ferreira da Silva e Maria José Lopes.

Quem foi
De Lampeão: Major Optato Gueiros – “Ao atingir os 17 anos, já trabalhava em todas as obras de couro inclusive sela, perneira, gibão, alforges, etc. Tocava harmônica de oito baixos. Confeccionava bonitos e bem acabados bornais, e, com perícia, tudo negociava nos comércios de Nazaré, São Francisco, Vila Bela, Flores e Triunfo e, quase sempre, se fazia acompanhar dos irmãos e do pai, que também negociavam com cereais”.

Sobre o ingresso de Virgulino na senda do crime, o autor escreveu:

“Ainda criançolas, surgiram certas incompatibilidades, entre Nogueira e Ferreira, que teve o seu desfecho um dia, numa série de escaramuças das quais saíram feridos Levino e Antônio Ferreira e o consequente abandono da fazenda Ingazeira pelo pai de Virgulino, para as proximidades da vila de Nazaré. E, em 1917, ingressou Virgulino na vida guerrilheira, tornando-se, em pouco tempo, o espantalho dos sertões”.

O APELIDO
O próprio Virgulino contou a origem do seu apelido:
“Isto foi no Ceará, disse, houve lá uns tiros. Tempo de inverno: as noites eram muito escuras, um companheiro deixou cair um cigarro e, como não o achasse, eu disse-lhe: quando eu disparar, no clarão do tiro, procure o cigarro, e assim foi, quando eu disparava o rifle, dizia: acende lampeão! E desse dia em diante, fiquei Lampeão”.

OS VERSOS
Seus versos foram muitos, porém somente alguns foram aproveitados, uma vez que a chuva inutilizou a maior parte, no bornal do cangaceiro que os conduzia e que foram apreendidos pela Polícia (Volante).

Começa com sua auto-biografia e depois aborda outros assuntos:

Leitores sendo possível
Leiam com toda atenção
Este pequeno fascículo
Que vos dá explicação
Quem foi, quem é Virgulino
Pela alcunha de Lampeão.

Fui nascido em Pajeú
Por Lampeão apelidado
No município de Vila Bela
No lugar denominado
Riacho de São Domingo
De Pernambuco no Estado.

Gado bravo para ele,
Não estando malmontado
Sendo em cavalo bom
julgava o bicho amarrado
Ou vinha pra o curral sadio
Ou com um quarto quebrado.

Até aos 17 anos
Vivia calmo e assocegado
Até todos conheciam
Por lutador honrado
E nessa idade os retrocessos
Fizeram-no mau e desgraçado.

Porém já sabem os leitores
Do mais antigo ditado
Que não se julgue feliz
O que vive em bom estado
Quem vem a naufragação
E acaba em mau resultado.
..............................................
Se reuniam os três irmãos
Cada qual mais animado
Disse ao pai já velho
Bote a questão pro meu lado
E deixe estar que o meu rifle
É um bom advogado.
..............................................
Eu bem que disse a meu pai
Desta vez acreditei
Que advogado bom é o rifle
Que com ele deportei
Todos nossos inimigos
Agora sim descansei.
..............................................
Seus nomes estão anotado
Suas casas já queimei
Não poupei nem mesmo o gado
Nesta luta me empenhei
Para a qual fui empurrado
..............................................
Estou bem perto do meu fim
Que me importa de morrer?
Mato João Pedro ou Martim
E onde vou comparecer”?
Já fiz tudo que queria
Que me importa de morrer?
..............................................
Para minha infelicidade
Entrei nesta triste vida
Não gosto nem de contar
A minha história sentida,
A desgraça enche o meu rosto
Em minha alma entre o desgosto
Meu peito é uma ferida.

Quando me lembro senhores
Do meu tempo de inocente
Que brincava nos serrados
Do meu sertão sorridente
Sinto que meu coração
Magoado desta paixão
Bate e chora amargamente.

Meu pai e minha mãe querida
Quiseram me ensinar
No colo carinhoso
E ela ensinou-me a rezar
E a todos muito respeitar
E ele ensinou-me nos campos
E eu menino a trabalhar.

Cresci na casa paterna
Quis ser homem de bem
Viver de mês trabalhos
Sem ser pesado a ninguém
Fui almocreve na estrada
Fui até bom camarada
E tive amigos também.

Tive também meus amores
Cultivei a minha paixão
Amei uma flor mimosa
Filha lá de meu sertão
Sonhei de gozar a vida
Bem junto a prenda querida
A quem dei meu coração.

Hoje sei que sou bandido
Como todo o mundo diz
Porém já fui venturoso
Passei meu tempo feliz
Quando no colo materno
Gozei o carinho terno
De quem tanto bem eu quis.

Meu rifle atira cantando
Em compasso assustador
Faz gosto brigar comigo
Porque sou bom cantador
Enquanto o rifle trabalha
Minha voz longe se espalha
Zombando do próprio horror.

Nunca pensei que na vida
Fosse preciso brigar
Apesar de ter intrigas
Gostava de trabalhar
Mas hoje sou cangaceiro
Enfrentarei o balseiro
Até alguém me matar

Quando pensei que podia
O caso estava sem jeito
Vou dar trabalho ao governo
Enfrentar agora de peito
E trocar bala sem receio
Morrendo num tiroteio
Sei que morro satisfeito.

Fonte:
Livro: Lampeão
Sub-título: Memórias de um oficial de forças volantes
Autor: Major Optato Gueiros (combateu o cangaço como oficial da PM-PE).
Edição: Livraria Progresso Editora - Salvador-BA
4a Edição – 1956.

Foto Lampeão: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdRQWDlW8DhX2hRHuuAjjQyTNHfshULxMAhjIJ_h2f_-Xkia2lg9zkmD6S8wXQYJJLXFFWU6KDcr20At-5CKELiHqeJs0CQmjnf2PxWxO4z4_Fcx6ApUfm534fAhDgHnBCljbxCsQu7akn/s1600-h/PAG1404.jpg

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