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quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

FOTO MEMÓRIA


Foto tirada em 1961 ou 1962, na escadaria da Escola Paroquial Sagrado Coração de Jesus, em Pires do Rio-GO.

Na fila de cima, a então diretora, Ir. Maria das Graças, outra freira e eu. Na segunda fila, o garoto na minha frente se chamava Carmelo, éramos coroinhas na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, dos padres franciscanos. Na fila da frente, o garoto da estrema direita se chamava Celso, creio que também era coroinha. Os dois outros menores são seus irmãos e um deles é o cantor José Araújo, que hoje reside em Goiânia e dá shows pelo Brasil inteiro e tem alguns CDs gravados.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

PIRES DO RIO, MINHA TERRA

Toda cidade tem sua história, naturalmente. Algumas levaram séculos entre o estabelecimento dos primeiros moradores e a declaração de independência do município. Pires do Rio não. Teve um aparecimento previsto. Foi súbito. A população foi transposta de Roncador para o local, que se transformou numa cidade da noite para o dia. Sua história será contada aqui, depois. Limitemo-nos à história contada pela imprensa oficial, narrando os atos do poder público.

A EMANCIPAÇÃO DE PIRES DO RIO

A história oficial da criação do Município de Pires do Rio, conforme dados extraídos do Correio Oficial de Goiás, precursor do Diário Oficial do Estado de Goiás (documentos transcritos com a ortografia vigente em 1930).

ATO I – NASCE O MUNICÍPIO

Correio Official

Sabbado, 12 de julho de 1930

ACTOS DO PODER LEGISLATIVO
Lei n.º 903, de 7 de julho de 1930.
Eleva à cathegoria de cidade a povoação de Pires do Rio e dá outras providencias.

ALFREDO LOPES DE MORAES, Presidente do Estado de Goyaz.
Faço saber que o Congresso Legislativo do Estado decretou e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1.º - É elevada à cathegoria de cidade a povoação de Pires do Rio, constituindo o seu município dentro dos seguintes limites: da barra do Ribeirão Caiapó no Rio Corumbá, pelo Caiapó acima até a barra do S. Jeronimo; por este até a fazenda de Irineu Meirelles (casa de residencia); dahi em linha recta ao Poço d'Água; dahi com o mesmo rumo, á divisa de Campo Formoso.

...

Art. 4.º - O termo de Pires do Rio será incorporado á comarca de Ypameri..."

ATO II – OS PRIMEIROS MANDATÁRIOS

Decretos nomeiam as primeiras autoridades: prefeito, até então chamado de intendente, e os vereadores, denominados conselheiros.

CORREIO OFICIAL de 28/08/30

DECRETO N.º 10.895, de 20 de agosto de 1930.

O 1.º Vice-Presidente do Estado, tendo em vista a lei n. 903, de 7 de julho do corrente anno, que elevou á cathegoria de cidade a povoação de Pires do Rio, resolve, nos termos do Art. 2.º da lei n. 129, de 23 de junho de 1897, nomear provisoriamente, para administrar o respectivo municipio; Dr. Josino Filgueiras de Lima, Intendente; Francisco Accioli Martins Soares, Domingos Sávio, João Rincon, Elias Helou, Antonio Nicolau de Paiva, Armando Stoni e Armindo Teixeira França, conselheiros, servindo o primeiro como presidente, e designar o dia 7 de Setembro proximo para a insthallação do município e o dia 27 do mesmo mez para se proceder as eleições de intendente e conselheiros effectivos.
O Secretario de Estado dos Negocios do Interior e Justiça assim entenda e o faça executar.

Palacio da Presidencia do Estado de Goyaz, 20 de agosto de 1930, 42.º da Republica.

Humberto Martins Ribeiro
Luiz Guedes d'Amorim

Na mesma data foram assinados decretos nomeando as demais autoridades do Município de Pires do Rio:

Dr. José da Costa Campos – Juiz Municipal
Viriato Teixeira França, Horacio Branquinho e Francisco Rodrigues Naves – Suplentes do juiz
Joaquim Antônio Teixeira – Sub-promotor público
Joaquim Osmundo de Miranda – Delegado de Polícia
Jovino Teixeira, João Cesário de Oliveira e Victor Alves de Arruda – Suplentes do delegado

ATO III – REVOLUÇÃO MUDA TUDO

Pelo Decreto n.º 16 da Presidência Provisória, assinado em 29 de outubro e publicado no Correio Oficial de 1.º de novembro, os principais mandatários de Pires do Rio, que mal acabavam de tomar posse como dirigentes interinos, foram destituídos e substituídos por outros, com exceção de um conselheiro, que não só permaneceu, como foi nomeado presidente do Conselho.
Trechos do decreto:

“Considerando o atual momento politico que atravessa o Paiz;
Considerando que na defesa da revolução victoriosa não podem ser poupadas medidas garantidoras da estabilidade dos princípios pregados e defendidos no Movimento Reivindicador Republicano (...)
Resolve:
a) destituir dos respectivos cargos o intendente municipal e seus supplentes;
b) destituir o Conselho Municipal de Pires do Rio
c) determinar que, até que o município se manifeste pelo voto livre do povo, os referidos cargos sejam providos do seguinte modo:

Intendente - Eduardo U. Silva
Conselheiros - Armando de Miranda Stormi (presidente), Acary de Moraes, Manoel Cavalcanti Nogueira, Luiz Pitaluga, Manoel Getúlio Lobo, Luciano Felix de Souza e João Batista Soares”.

Fonte: Correio Oficial de Goiás.

NOTAS HISTÓRICAS

Até 1920, o ponto atingido pela Estrada de Ferro Goiás era a Estação do Roncador, então, um próspero povoado. O engenheiro Balduíno Ernesto de Almeida, diretor da Ferrovia, propôs situar uma estação no atual município de Pires do Rio, sob a condição de serem doadas terras, para a criação de uma cidade.

Atendendo o apelo, o coronel Lino Teixeira Sampaio doou três alqueires de sua fazenda. Rosalina Fernandes Sampaio, sua esposa, doou terreno para a construção de uma igreja, consagrada a Nossa Senhora da Abadia. Tendo a área sido aproveitada para jardim público, fez outra doação, onde se ergue a Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus.

Por determinação do engenheiro, o desenhista-chefe, Álvaro Sérgio Pacca, elaborou o projeto do novo núcleo populacional, que não chegou a ser executado, de vez que os novos habitantes foram construindo fora da área reservada.

A inauguração, a 9 de novembro de 1922, da ponte metálica Epitácio Pessoa, com 120 metros de extensão, sobre o rio Corumbá e da Estação Ferroviária, marcaram a fundação de Pires do Rio, pelo engenheiro Balduíno Ernesto de Almeida, com a cooperação do coronel Lino Teixeira Sampaio e dos primeiros moradores, coronel Manoel Cavalcanti Nogueira e coronel Luciano Félix de Souza.

Grande foi a afluência ao novo povoado, principalmente dos habitantes de Roncador.

O nome de Pires do Rio, dado à estação, estendeu-se ao arraial e depois ao Município, em homenagem ao então ministro da Viação, José Pires do Rio.

Um obelisco, na Praça do Mercado Municipal, assinala a fundação da cidade. Nele está gravado o nome do fundador, que, como diretor da Estrada de Ferro Goiás, teve atuação decisiva na sua formação. A demarcação de ruas e praças deve-se à sua iniciativa.

Texto da Coleção de Monografias Municipais – Nova Série – N.º 95, do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 1984.


Hélio Nascente - Alexânia-GO, 26 de dezembro de 2007.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

UM CASO DE FUNERÁRIA


Estávamos o Messias e eu bebericando uma bramita, lentamente, intercalada com algumas beiçadas no conteúdo de um copo de cana, na Flutuante do seu Manoel, parada sobre as águas do imenso rio Tocantins, em Miracema, num bucólico entardecer de dezembro, quando a figura chegou: tranqüilo e maneiroso como um bom mineiro, sentou-se à nossa mesa e lá ficamos jogando conversa fora até a noitinha.
Contou-nos como verdadeiras e autênticas algumas interessantes passagens de sua desventurada vida, repleta de altos e baixos, segundo ele.
Disse ser filho de Minas Gerais, de uma região situada na divisa com o Espírito Santo, onde a injustiça, a violência e a sonegação imperaram durante décadas, em conseqüência da disputa entre os dois estados por aquela terra, o que o tornou lugar sem dono por muito tempo. As disputas eleitorais eram decididas através da intimidação, muitas vezes sendo o resultado de uma eleição municipal resolvido à bala e as famílias importantes se enfrentavam com a fúria de vândalos, na disputa pelo poder.
Assim, na narração do nosso colega de bebericagem, na sua terra a antiga UDN era propriedade de uma família, cujos membros e asseclas eram popularmente cognominados Corta-Goela, enquanto que outro clã detinha o poder de mando do PSD e seus membros eram os famosos Pica-Pau.
Foi ali, naquele típico clima de cidade pequena que o nosso amigo vendeu um barzinho, recebendo em troca uma empresa funerária e ainda dois defuntos em potencial que havia na cidade: na verdade, dois cidadãos que se encontravam em estado de saúde tão ruim, que tudo indicava necessitarem dos serviços da empresa proximamente. Só que um era pobre e o outro rico. E defunto pobre não dá lucro.
Nosso amigo tinha ainda um sócio chamado Lázaro e fazia parte do patrimônio da empresa uma velha camioneta Studebaker. Ambos viviam quase sempre atrelados a uma boa garrafa de cachaça de engenho, fabricada lá mesmo e assim, a pobre viatura fúnebre percorria os buraquentos caminhos mais pulando e sacolejando do que propriamente deslizando sobre a terra.
“O primeiro defunto foi o pobre, que deu prejuízo pra nóis”, falou nosso amigo, que dizia chamar-se Fábio. “Quando nóis tava esperano a morte do rico prá quarqué hora, aparecero lá uns fíi-duma-égua duns adventista e levaro o danado pra Belo Horizonte e foi só o disgraçado chega lá e morrê. Lá mesmo foi enterrado”.
Continuando sua narrativa interessante, o Fábio contou-nos que “logo em seguida mataro de tiro um Pica-Pau numa vila do Espírito Santo e os Corta-Goela num pudia ir lá busca o corpo, porque sinão pudia morre mais gente. Aí os parente do morto viéro contratá nóis pra ir faz lá fazê o serviço e então nóis aproveitemo a oportunidade prá tirá o atraso, e nóis rancô o coro deles. Pagaro a metade adiantado e nóis saimo prá viage”.
“Cheguemo lá no Espírito Santo já de tardinha, pernoitemo na pensão da Dona Filó e no outro dia bem cedo pusemo o defunto na carroceria da Studebaker e viagemo de vorta. Mas logo na saída tomemo umas prá animá e prá suportá a catinga do difunto infiliz, que já tava passano da hora de interrá”.
“Fumo tumano umas e otras pelo caminho e o Lázaro tava apertano o pé pra chegá logo e tonto como tava, nóis tivemo foi muita sorte de não tombá a camioneta e nóis se daná todinho”.
“Na entrada da nossa cidade tinha uma ponte de tábua das mais mar feita do mundo, fartano tábua no meio e com cada buracão na entrada e na saída das viga. Embalado como tava, o Lázaro entrou com tudo na dita ponte e a camioneta pulou mais que cabrita doida, mas saímo do outro lado sem pobrema. Quando cheguemo na cidade, os parente do Pica-Pau morto viero ansiado perguntá cadê o falecido. Falei que tava na carroceria, mas quando olhemo num tinha ninguém e aí passemo o maió apuro da nossa vida, porque os home brabo já queria parti pra cima de nóis”.
Terminando a narrativa e o suspense, nosso colega disse que naquele instante, para salvar os dois apavorados sócios da funerária, “apareceu um rapáiz da cidade e falô que acabô de vê um corpo de gente ingastaiado nas pedra dentro do córgo. Corremo prá lá e discubrimo o que aconteceu. Com as bacada na ponte, o difunto pulô fora, caiu dentro do córgo e pra cumpricá, bateu a cabeça numa pedra, separano o corpo da cabeça”.
Meu amigo não teve coragem de cobrar a outra metade do serviço, mesmo porque ele e o sócio Lázaro já estavam jurados pelos parentes do morto, por causa do serviço mal feito e tiveram que vender a funerária por qualquer preço, antes que terminasse o enterro do homem e se escafederam do lugar para nunca mais voltarem, “inté hoje”, arrematou o Fábio.

Hélio Nascente

Publicado no jornal A Voz do Povo – Miracema do Tocantins-TO, janeiro/1991.
Está no site: http://www.alexania.tv/

Fonte da ilustração: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEho3VlXuZ2I76eexYB8nLQgZ7E5P99EM_3piCCO7byQOka8pgLs9ZyZKMaEKLcJ3B09rNBwSJYE_9Zz7Ax5ws26RGTzhl3oCe0iZmLCR5ypYzW0isvQOylMH0ww0-Id29qPkWfTPXW1_IF7/s1600/caixao.jpg