quinta-feira, 22 de julho de 2010
POEMA DO DUQUE DE CAXIAS
O duque de Caxias, militar austero e carrancudo, foi, contudo, picado um dia pela inevitável mosca do amor; apaixonou-se por uma linda e fidalga brasileira da então Província Cisplatina. Não se casaram, porém. Ele uniu-se a sua esposa no Rio de Janeiro, e sua paixão sulista casou-se também, com um uruguaio, nascendo-lhe uma filha, linda, tal qual a mãe. Em conhecendo a jovem, muitos anos depois, Caxias fez este terno poema a ambas, mãe e filha:
“Lindo botão, deves ter... por nasceres de uma rosa...”
O grande marechal do Império, herói de guerras, duque, ministro, portador dos mais cobiçados lauréis, nunca, entretanto, olvidou o grande amor da sua juventude.
Os versos de Caxias:
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina, um tanto de mulher.
Lindo botão, bem conheço
A rosa de onde procedes;
Olha... e verás que inda hoje
Em beleza não na excedes.
No Pantanoso eu a vi
Inda tão bela e viçosa,
Hoje o Pampeiro da vida
Dobra-lhe a fronte formosa.
Não importa, inda eu a vejo
Com toda a nobreza e graça,
Que só o sepulcro extingue
Beldades que são de raça.
Lindo botão, deves ter
Justo desvanecimento
Por nasceres de uma rosa
De tanto merecimento.
Saberás que as flores têm
Sucessiva Dinastia,
E pertenceu sempre a rosa
À mais nobre Hierarquia.
Os espinhos que te cercam
Não são para te ferir
Simbolizam as virtudes
Que deves sempre seguir.
Servem para defender
Tua angélica beleza
Da ímpia mão que pretenda
Manchar a tua pureza.
Mergulhado na Guerra do Paraguai, encontrou inspiração e tempo ainda, na aspereza da sua barraca de campanha, para dedicar esses simples versos de ternura para a esposa distante, Ana Luíza Carneiro Viana – Anica:
Eu tenho o coração maior que o mundo. Tu bem o sabes. Onde mesma cabes!
Que te parece? Até estou poeta!
Já avançado em idade, Luiz Alves de Lima e Silva viu o mundo faltar-lhe de debaixo dos pés, com o falecimento da amada, que era mais jovem do que ele 14 anos. Escreveu:
Vivo agora muito triste depois do golpe que sofri com a morte de minha Duquesa, a quem eu amava muito e só hoje desejo ir para onde Deus a levou.
Versos transcritos de Caxias, de Affonso de Carvalho – Biblioteca do Exército – 1976.
Fonte da ilustração: http://www.algosobre.com.br/images/stories/assuntos/biografias/Duque_de_Caxias.jpg
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