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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

CAPITÃO BOAVENTURA


Delegado Eurípedes III

Nos anos oitenta, José Boaventura era capitão no sétimo Batalhão da Polícia Militar, em Goiânia. Esbanjava energia no adestramento dos policiais a ele subordinados. No final de oitenta e dois, dois aspirantes a oficial da fornada daquele ano foram lotados no seu quartel. Os novos aprendizes de oficiais faziam o estágio aplicando timidamente os conhecimentos obtidos durante o curso de formação. Quando os capitães Boaventura e Leonardo, da turma de 72, saíram aspirantes, pagaram diversos micos para os oficiais que os receberam para estágio. Com a chegada dos novatos viram a oportunidade de descontar o atraso. Leonardo tinha por hábito revistar as bolsas dos aspirantes para ver as coisas trazidas. Quando via uma toalha limpa, camiseta ou outra peça de roupa fazia uso dela para lustrar os sapatos. Era a mais pura sacanagem de caserna tipo fique esperto senão os malandros te embrulham. Boaventura, todo dia depois da aula de educação física, logo depois do banho coletivo, ia para alojamento dos oficias e examinava com olhos de águia caçadora os armários dos aspirantes, buscando desodorante.

Usava o primeiro frasco encontrado, até esgotar o estoque. Houve uma quinzena que vários alunos oficiais do terceiro ano faziam estágio no quartel e num determinado momento, o hoje tenente coronel Marlen encheu um dos frascos com suco de maracujá, colocando-o no armário de outro colega, bem à mostra. O capitão caronista apareceu revistando tudo, como se fosse a águia, à procura da caça. Encontrou o objeto de sua procura e se lambuzou à vontade. Foi se embora lampeiro. Daí a pouco, voltou parecendo uma arara de filhotes, querendo saber do conteúdo do frasco usado por ele.

Encontrou o armário suspeito, seu olhar fuzilava o aprendiz espertinho querendo dar-lhe lição de esperto. Com a certeza de ter encontrado o engraçadinho pegou o tal frasco e escrutinou-lhe o rótulo, a tampa, cheirou para sentir vestígios, espremeu na mão reexaminando com o maior cuidado e tudo estava normal, velhacamente não deu alarme do malogro sofrido. Saiu sem dar recibo de ter sido ludibriado. O astuto aspirante, simplesmente havia substituído o frasco por outro original e jogado fora aquele pirateado. O homem-autoridade estava todo melado, pegajoso e, se não se lavasse logo podia até ter febre. Teve de tomar banho novamente, demoradamente... A pegadinha serviu para alguma coisa: ele parou de surripiar desodorante.

Crônica transcrita da Revista Goiás de Norte a Sul – Goiânia-GO, edição n° 2 – Junho/2010.

Ilustração: http://www.google.com.br/images?hl=pt-BR&source=imghp&biw=1020&bih=596&gbv=2&aq=f&aqi=g10&oq=&gs_rfai=&q=desodorante&tbs=isch:1

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